Por Carlos Russo Jr

Mussolini fundou o “Partido Revolucionário Fascista”, durante a Primeira Guerra, em 1915. Ele foi enraizado no nacionalismo italiano e no desejo de restaurar e expandir colônias na África. Diziam ser a Itália moderna uma herdeira da Roma Antiga, queriam construir um Império Italiano. Chegou ao poder político em 1922 e as “brigadas negras” se encarregaram de massacrar toda e qualquer oposição política.

Por outro lado, em 1919, foi fundado o Partido do Trabalhador Alemão na Baviera, ao qual Hitler se associaria. Em 1920, o grupo adotou o nome de Partido Nacional-Socialista, o Partido Nazista. Nas eleições parlamentares de 1933, o Partido obteve votos suficientes para tornar-se o mais eleito do Parlamento e Hitler, Primeiro Ministro. Suas principais bandeiras eram a manutenção de uma suposta “raça superior à raça ariana” e em decorrência os nazistas se propunham exterminar os “degenerados” e os assim chamados grupos “antissociais”, que incluíam judeus, homossexuais, ciganos, negros, deficientes físicos e mentais, as Testemunhas de Jeová e todos adversários políticos.

O Partido Nazista no Brasil foi fundado em Santa Catarina, na cidade de Timbó, em julho de 1928. O Brasil foi o primeiro País a ser reconhecido pelas lideranças do partido em Munique, que já haviam realizado a fracassada tentativa de golpe de estado de 1925.

E o Partido Nazista, assim que formado, se expandiu. Chegou a se estabelecer em 17 estados brasileiros, contando com mais de 100 células formadas exclusivamente por alemães. Frise-se que por ordem expressa do Partido Alemão e, posteriormente, do governo nazista, só era permitida a inscrição de alemães natos, excluindo até mesmo descendentes nascidos aqui.

A filiação foi em maior volume em Santa Catarina e São Paulo, embora houvesse células nazistas na Bahia, no Pará e em Pernambuco.

O partido de Hitler no Brasil chegou a ser o maior Partido Nazista fora da Alemanha.

E nas décadas de 1930 e 1940, ademais dos membros partidários de origem germânica, os simpatizantes do nazismo espalharam-se por todo o Brasil!

Fotos de alemães e simpatizantes brasileiros ostentando a suástica em bandeiras e faixas, reportagens racistas sobre o “perigo judeu”, sobre as maravilhas dos “campos de trabalhos forçados” estabelecidos nos países invadidos, como Auschwitz. O jornal nazista “Deutscher Morgen” (“Aurora Alemã”) se encarregou de apregoar em todos os cantos de nossa Pátria a exclusão de raças “inferiores” e grupos sociais como judeus, ciganos, homossexuais, comunistas e portadores de deficiência.

Grande parte da repulsa do Partido Nazista se direcionava também a negros e miscigenados, que compunham nossa própria identidade nacional. Entretanto, frise-se, o racismo não foi uma importação nazista! O sucesso do Partido em solo brasileiro ocorreu justamente por conta do pensamento racista da elite e da classe média, herança do escravagismo. A vinda de europeus da Itália e Alemanha foi incentivada não só para fornecer mão-de-obra barata na agricultura, mas também como uma forma de “branquear” a identidade brasileira.

Textos eugenistas apareciam não somente em publicações ligadas ao Partido Nazista, mas também na quase totalidade da imprensa brasileira dependente da publicidade estatal.

De todo modo, a nomeação de Hans Heinnig von Cossel como chefe do partido no Brasil, em 1934, aumentou a adesão dos entusiastas da cruz gamada. Sua estratégia era conseguir unir toda a colônia alemã em torno do hitlerismo, evitando manifestações sobre questões políticas brasileiras. Afinal, o nazismo já contava com inúmeros simpatizantes no próprio governo e na posterior ditadura Vargas, assim como em nossas Forças Armadas.

Surge um irmão ideológico.

Na década de 1930, outro movimento estava em crescimento no país, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Fortemente inspirado pelo fascismo italiano, o jornalista paulista Plínio Salgado fundou a Ação Integralista Brasileira, organização política que compartilhava os mesmos preceitos do nazi-fascismo: nacionalismo, antissemitismo, combate ao comunismo e ao liberalismo.

“Sim, podemos dizer que são irmãos fascistas”, dizia Cossel.

Na década de 1930 e princípios da de 1940, Brasil e Alemanha eram mais que amigos. Até a entrada na Segunda Guerra Mundial em 1942, ao lado dos Aliados, o Brasil manteve boas relações com a Alemanha. Consequentemente, a existência do Partido Nazista em solo brasileiro foi não apenas tolerada, mas muito bem vista, inclusive por Getúlio Vargas.

“Até 1938, o partido não era proibido no país. Pelo contrário, era festejado por ministros de Vargas” afirma o historiador Gertz.

O próprio Vargas, ao se corresponder oficialmente com Hitler em novembro de 1937 por conta da troca de embaixadores, chamou o ditador alemão de “grande bom amigo” e afirmou esperar um estreitamento de relações. O filho de Getúlio, Lutero Vargas, casou-se com a artista plástica alemã nazista Ingeborg ten Haeff, simbolizando o relacionamento estreito entre os países.

As polícias secretas do Brasil e Gestapo da Alemanha estabeleceram vínculos de cooperação fortíssimos. Uma de suas vítimas foi Olga Benário, militante comunista judia, nascida em Munique e companheira de Luís Carlos Prestes. Olga, grávida e casada com um brasileiro, foi presa e extraditada para a Alemanha, entregue à Gestapo e executada em 1942, em um campo de concentração.

Também foram realizadas expedições nazistas à Amazônia para coletar informações sobre a fauna, flora e cultura indígenas da região, pois um dos objetivos do governo alemão era implantar colônias estratégicas na região.

A preterida expansão do imperialismo da Alemanha em países subdesenvolvidos como o Brasil tornava-se mais do que evidente.

No entanto, em 1942, quando o Brasil entra na Segunda Guerra Mundial, empresas alemãs foram fechadas, bancos alemães pediram liquidação e lojas alemãs foram saqueadas. Em resposta às proibições e hostilidades, parte da comunidade alemã-nazista deixou o Brasil e foi repatriada, recebendo até mesmo compensações financeiras do Reich.

Se o fascismo estrutural foi uma das bases da Ditadura Militar de 1964, somente após a redemocratização, em 1988, o Neonazismo tentou se estruturar no Brasil através do Partido Nacional Socialista Brasileiro (PNSB), fundado por Armando Zanine Júnior em 1988.

A Justiça Eleitoral não o aprovou. Nosso país vivia uma efervescência política de liberdade e reconstrução pós-ditadura militar.

Na busca por alguma relevância política, o PNSB se aproximou publicamente do seu “irmão” ideológico, o movimento integralista representado pela Ação Integralista Brasileira. Nas eleições de 1994, Zanine declarou apoio a Éneas Carneiro, do PRONA, mas Carneiro rejeitou publicamente o apoio.

Temos, entretanto, uma forte herança nazifascista, alicerçada no anti-intelectualismo e no racismo estrutural.

O recente surto de crimes de apologia ao nazismo, a existência de células neonazistas, o crescimento do discurso de ódio e da intolerância através do “comitê do ódio do Planalto”, o crescimento de milícias armadas com participação de militares e policiais- militares, o massacre a negros e pobres de periferias, todos estes fatos têm uma relação direta com a existência e as práticas que antecederam o surgimento do Nazismo Alemão e até mesmo dos Partidos Nazista e Fascistas no Brasil do século passado.

 

Fonte: Espaço Literário Marcel Proust.
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