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MÍDIA NEGRA E FEMINISTA
ANO XX – EDIÇÃO Nº243 – JUNHO 2025
Donald Trump e a supremacia branca
[Ilustração Ben Jennings, The Guardian, 14.08.2017]
Por Petrônio Domingues – Donald Trump revitaliza o racismo estrutural dos EUA, transformando ansiedades econômicas e demográficas em uma cruzada supremacista que desafia a ordem multicultural e alimenta tensões globais. O advento do fenômeno Donald Trump, em sua complexidade, denota uma dimensão racializada, que mobiliza narrativas e representações historicamente constituídas da cultura política racista estadunidense, atualizando-as para os debates e embates político-ideológicos do tempo presente. Em última instância, o trumpismo vocaliza um projeto de nação fundado nos postulados da supremacia branca. Desde a campanha eleitoral em 2016, que redundou no seu primeiro mandato como presidente e foi coordenada pelo supremacista Steve Bannon, Donald Trump tem utilizado motes racistas que catalisam vários grupos supremacistas dos Estados Unidos, entre eles a tradicional Ku Klux Klan. A raça, como marcador estruturante da sociedade estadunidense, foi um dispositivo acionado em vários momentos para respaldar as narrativas dos supremacistas. Basta dizer que o filme Nascimento de uma nação (1915), que celebrava a ascensão da Ku Klux Klan e o papel dessa organização na remissão dos brancos do Sul, teve uma exibição na Casa Branca, com a presença do diretor David Griffith. O então presidente da República, Woodrow Wilson, teceu loas à produção e ainda prometeu apoiá-la, contrapondo-se à militância negra, que havia feito campanha para proibir a sua circulação. A raça também foi um marcador agenciado para legitimar as ações no plano externo dos Estados Unidos. Em diversos momentos, a projeção do país na agenda internacional não teve somente um sentido econômico, mas também se valeu de argumentos e justificativas de uma superioridade como nação branca, atuando em uma ordem global com uma maioria de populações “inferiores” que deveria ser governada e tutelada pelas “nações civilizadas”. Leia o artigo na íntegra. Fonte: A Terra é Redonda.
A diversidade como catalisadora da transformação
Por Amanda Abreu, Verônica Dudiman, Daniele Mattos e Marcelle Chagas – A diversidade nunca foi e nem pode ser vista como um ponto de chegada. Ela é um ponto de partida para qualquer ação que tenha como base a inclusão, trata-se do início de uma jornada um tanto quanto complexa, que exige esforços contínuos, transformações estruturais e, principalmente, ações concretas para garantir que todos tenham as mesmas oportunidades de inclusão e participação no processo de construção social, econômica e política. No contexto global, onde os ventos conservadores começam a soprar com mais força devido ao cenário político que temos, passamos a ter um cenário onde as políticas de diversidade estão sendo questionadas. Observamos que estão tentando reverter avanços que levaram décadas para serem conquistados, por isso, em meio ao panorama atual, a América Latina surge como um campo fértil para o desenvolvimento de iniciativas autênticas, capazes de fortalecer as minorias e fomentar uma verdadeira transformação. A América Latina, ao contrário de ser uma exceção, é um reflexo de sua própria diversidade. A região carrega, em sua história, os impactos profundos da escravização, da colonização e das ditaduras que marcaram sua trajetória. No entanto, é também uma terra de resistência e de constante reinvenção, onde povos e culturas se misturam e se fortalecem, dando origem a um cenário culturalmente rico e criativo. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Nexo.
Clóvis Moura e a questão palestina
Por Gabriel dos Santos Rocha – Clóvis Moura, mais que um teórico da questão racial no Brasil, foi um intelectual engajado, que denunciou o colonialismo sionista, mostrando que seu antirracismo era tão universal quanto sua crítica ao capitalismo. Se os principais livros de Clóvis Moura versam sobre o Brasil, sua produção jornalística nos mostra também a visão do autor sobre acontecimentos internacionais. “O genocídio contra o povo palestino” foi publicado há 43 anos, no entanto, infelizmente se relaciona com acontecimentos do presente. No mês anterior à publicação original, em junho de 1982, Israel iniciava, pela segunda vez – a primeira ocorrera em 1978 –, uma invasão ao Líbano, país que passou a abrigar uma parcela de refugiados palestinos desde as expansões coloniais sionistas sobre a maior parte do território palestino. Ao tratar da questão palestina, Clóvis Moura mostrou a dimensão universal de seu antirracismo: prestou sua solidariedade a um povo que resiste a um sistema colonial e racista, o qual há décadas se utiliza da limpeza étnica como técnica de dominação e ocupação territorial. A crítica de Clóvis Moura é direcionada à política sionista do Estado de Israel, a qual não deve ser confundida com o judaísmo propriamente. Não é o judaísmo que determina a natureza do Estado de Israel, mas o sionismo: corrente político-ideológica fundada em 1897 pelo jornalista húngaro Theodor Herzl. Portanto, o sionismo é uma ideologia-política com pouco mais de 100 anos, a qual não representa o conjunto das comunidades judaicas, que são heterogêneas e possuem uma complexa história étnica, cultural e religiosa muito maior e, certamente, mais interessante do que a doutrina de Theodor Herzl. Leia o artigo na íntegra. Fonte: A Terra é Redonda.
Novo centro vai estudar a diversidade linguística dos povos indígenas do Brasil
Por Erika Yamamoto – O Brasil é um dos países mais multilíngues do mundo. Além do português, são faladas centenas de línguas indígenas no território nacional, e muitas delas estão ameaçadas de desaparecer. Para contribuir com a realização de pesquisas, documentação e difusão da diversidade linguística e cultural dos povos indígenas brasileiros, o Museu da Língua Portuguesa (MLP) e o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP uniram esforços e criaram o Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas. Com financiamento de R$ 14,5 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o centro tem o objetivo de desenvolver pesquisas inéditas e se tornar referência nacional e internacional para constituição de coleções digitais de conhecimentos intangíveis e práticas indígenas, a partir de relações de confiança e respeito para com as comunidades e especialistas indígenas envolvidos. O Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas criará um repositório digital de documentos e acervos de linguística e antropologia de comunidades indígenas do Brasil e de países vizinhos. A necessidade de incentivar a produção de pesquisas inéditas sobre os povos originários foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que definiu o período de 2022 a 2032 como a Década Internacional das Línguas Indígenas. Leia a matéria completa. Fonte: Jornal da USP.
Catálogo dedicado aos povos indígenas afirma direitos dessa população
Por Ana Cristina Campos – O Projeto Resgate Barão de Rio Branco da Fundação Biblioteca Nacional lançou seu novo catálogo temático dedicado integralmente aos povos indígenas. A ferramenta permite acesso gratuito a milhares de documentos que registram a presença indígena na formação do Brasil, desde o século 16 ao 19. O conjunto de documentos traz uma variedade significativa de temas e cada registro flagra instantes da afirmação e da resistência desses povos, diz a Biblioteca Nacional. O trabalho foi coordenado pela professora do Departamento de História da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e indígena da etnia Tarairiú, da Paraíba, Juciene Ricarte Cardoso, com a participação dos historiadores Josinaldo Sousa de Queiroz, Karina Fabiana da Silva e Letícia dos Santos Ferreira. Juciene conta que no final da década de 1990, como pesquisadora do Projeto Resgate Barão do Rio Branco, ficou com mais de 20 pesquisadores brasileiros em Lisboa por um ano. Eles trouxeram para o Brasil mais de 200 mil verbetes e mais de 5 milhões de imagens documentais do Arquivo Histórico Ultramarino sobre a história colonial do país. Até o momento, foram feitos o levantamento e a reprodução de documentos existentes nos arquivos, bibliotecas, museus, centros e instituições culturais de Áustria, Espanha, Holanda, França, Bélgica, Reino Unido e Estados Unidos. Leia a matéria completa e visite o acervo. Fonte: Agência Brasil.
A onda neoconservadora e o atraso na saúde reprodutiva feminina no Brasil
Por Cristiane Cabral – O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) publicou, em 2024, uma revista que reúne uma série de relatórios e pesquisas sobre saúde reprodutiva feminina no Brasil nos últimos anos. A análise dos dados do UNFPA revela a negligência na educação sexual como um problema em tempos de neoconservadorismo. Segundo o estudo 13% das mulheres entrevistadas apresentavam conhecimento pleno sobre planejamento reprodutivo. Além disso, acredita-se que mais da metade das gravidezes no País sejam indesejadas ou não planejadas. Durante os anos 90 e 2000, diversas políticas públicas a respeito da saúde reprodutiva no Brasil foram criadas e tiveram êxito em seus objetivos. Entretanto, para a professora, houve um desmonte sistemático nas estruturas de políticas públicas e nas iniciativas dos últimos anos. Questões como essas reafirmam a urgência de discutirmos sobre a garantia de informações a mulheres em idade reprodutiva, sobre aspectos ligados a suas vidas sexuais. Contudo, esse problema é muito mais amplo. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Jornal da USP.
A obra de Simone de Beauvoir mostra como podemos unir o marxismo e feminismo
Entrevista Emma McNicol, por Daniel Finn | Tradução Pedro Silva – Simone de Beauvoir foi frequentemente ofuscada em vida por seu parceiro, Jean-Paul Sartre. Desde sua morte em 1986, no entanto, a reputação de Beauvoir como uma das pensadoras mais importantes do século XX e pioneira do feminismo moderno se consolidou. Mas a influência do marxismo em seu pensamento é frequentemente ignorada. Ela queria construir um movimento socialista que combatesse a opressão de classe e de gênero simultaneamente. O principal problema que Beauvoir enfrenta hoje é a incompreensão, e não a negligência. Grande parte dos comentários sobre a obra de Beauvoir ignora o diálogo com o marxismo em que ela se engajou. Beauvoir identificou as muitas maneiras pelas quais a opressão de gênero e classe estava interligada e enfatizou a necessidade de um amplo movimento emancipatório baseado em princípios socialistas. Emma McNicol é pesquisadora do Centro Monash de Prevenção à Violência de Gênero e Familiar. Esta é uma transcrição editada do podcast Long Reads da Jacobin Radio. Leia a entrevista. Fonte: Jacobin Brasil.
Quem deve regular as plataformas digitais
Por Francisco Brito Cruz – O governo federal está se preparando para enviar, ainda no primeiro semestre de 2025, uma proposta de regulação das plataformas. Essa pode ser a última cartada do governo no tema ainda neste mandato. Entretanto, o contexto é diferente de 2022 ou 2023. Essa cartada vem em um momento da geopolítica que diferentes países debatem internamente como devem se posicionar e construir sua soberania (e estruturas de governança) no meio digital. E, justamente por isso, questões que ficavam para o rodapé há alguns anos vêm para o cabeçalho hoje. É o caso da discussão sobre quem deve aplicar regras e fiscalizar obrigações a serem estabelecidas para grandes plataformas digitais. Esse ponto, que parece técnico, é na verdade político — e estratégico. A escolha do órgão regulador vai moldar o tipo de regulação que teremos. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Revista Gama.
América Latina: Os planos de Trump
Por Carlos A. Romero, Carlos Luján, Guadalupe González, Juan Gabriel Tokatlian, Mônica Hirst – Casa Branca tenta usar a região como “laboratório” para sua política externa truculenta e barrar a crescente influência da China. Velhas táticas de coerção econômica, migração e “guerra às drogas” são recicladas – agora, não para manter hegemonia, mas para recolonização. O segundo governo de Donald Trump transformou a América Latina e o Caribe em um “laboratório de controle” para a política internacional MAGA (Make America Great Again). Esta é uma abordagem única, dado que a região é sua esfera histórica de influência, onde Washington busca testar sua capacidade de comando, subordinação e extorsão com base em agendas específicas, como migração, segurança, controle de fronteiras, defesa, comércio e investimento, ao mesmo tempo que suprime questões relacionadas ao meio ambiente, transição energética, cooperação internacional e tecnologia. É importante considerar a natureza única da América Latina e do Caribe como um amálgama de 33 países que constituem geopoliticamente a área de influência imediata dos Estados Unidos. Em outras regiões, outros territórios são alvos individuais do unilateralismo agressivo do governo Trump (Groenlândia, Ucrânia e Gaza), mas eles não pertencem ao mesmo bloco de identidade em termos de história, cultura ou integração internacional. Ameaças, mesmo que bilaterais, não podem ser ignoradas, tanto coletivamente quanto regionalmente. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Instituto Humanitas Unisinos.
EXPEDIENTE
MÍDIA NEGRA E FEMINISTA
Boletim Eletrônico Nacional
Periodicidade: Mensal
EDITOR
Valdisio Fernandes
EQUIPE
Allan Oliveira, Ana Santos, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Davino Nascimento, Denilson Oliveira, Enoque Matos, Flávio Passos, Glauber Santos, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Jeane Andrade, Josy Andrade, Josy Azeviche, Leila Xavier, Luan Thambo, Lidia Matos, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Naira Silva, Patricia Jesus, Poliana Silva, Ronaldo Oliveira, Roselir Baptista, Silvanei Oliveira, Tamiris Rizzo.