Boletim Mensal do Instituto Búzios – Mídia Negra e Feminista

 

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MÍDIA NEGRA E FEMINISTA

ANO XX – EDIÇÃO Nº245 – AGOSTO 2025

Dossiê África Insubmissa

Cabeça de Latão de Benin, The British Museum

Por José Luís Fiori – A África é o segundo maior continente do mundo, com cerca de 1 bilhão e meio de habitantes, ou seja,18,83% da população mundial. São nove territórios e 57 Estados independentes, divididos em cinco grandes regiões, e é comum separá-las em dois grandes blocos: a África do Norte, predominantemente arábica, e a África Negra ou Sub-Sahariana, ao sul do Sahel. Apesar de suas dimensões geográficas e demográficas, a África produz apenas 5,4% do PIB mundial (em termos de paridade do poder de compra), 2% das transações comerciais globais e captou menos de 2% do investimento direto estrangeiro dos últimos anos. A independência africana, depois da II Guerra Mundial, despertou grandes expectativas com relação aos seus novos governos de “libertação nacional” e projetos de desenvolvimento, que foram bem-sucedidos – em alguns casos – durante os primeiros tempos de vida independente. Esse desempenho inicial, entretanto, foi atropelado por sucessivos golpes militares (envolvendo, quase sempre, suas ex-metrópoles coloniais) e pela crise mundial dos anos 1970, que atingiu todas as sociedades periféricas, provocando um prolongado declínio da economia africana até o início do século XXI. No panorama atual da luta por soberania despontam governos que desafiam Ocidente. África do Sul denuncia o terror branco em Gaza. Poderão as novas tendências começar a reverter séculos de colonialismo? Leia o artigo e o Dossiê África insubmissa. Fonte Instituto Humanitas Unisinos.

A origem africana da democracia

Por Reiter Bernd | Tradução: Everton Lourenço – Os gregos podem ter ficado com a fama por ter institucionalizado uma forma de governo direto em cidades, mas não se engane: a tomada de decisão coletiva pelas pessoas comuns tem uma história muito mais antiga, que remonta a origem da humanidade na África. Neste breve ensaio, defendo que a democracia teve início na África Antiga, ao invés da Grécia Antiga. Ao longo do caminho, demonstro que o foco hegemônico da História mundial na civilização é equivocado e enganoso. Tal foco, ao fim e ao cabo, direciona nossa atenção coletiva na direção de impérios, reinos e dinastias e, ao fazê-lo, ofusca outra História, mais relevante para a democracia: a história do autogoverno, do igualitarismo, da resistência contra o controle estatal e da verdadeira democracia. A verdadeira democracia é definida aqui como o autogoverno pelas pessoas comuns. Ela não tem conexão com o voto e certamente permanece desconectada de eleições e da representação política – e ela começou na África. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Jacobin Brasil.

Rede Nacional pela Soberania Digital – Carta a Lula

Um estudo revelou que o setor público brasileiro gastou mais de R$ 10,35 bilhões em produtos tecnológicos internacionais entre junho de 2024 e junho de 2025, informa o Jornal da USP. Esse valor poderia financiar por um ano os pagamentos de bolsas de mestrado e doutorado para todos os 350 mil estudantes do país. O estudo aponta que essa escolha representa uma inversão de prioridades, com o governo priorizando a inovação estrangeira em detrimento do desenvolvimento tecnológico nacional. O estudo, intitulado “Contratos, Códigos e Controle: A Influência das Big Techs no Estado Brasileiro”, foi realizado por pesquisadores da USP e da Universidade de Brasília. Ele analisa a influência das grandes empresas de tecnologia (big techs) no setor público brasileiro, revelando que o governo brasileiro gasta grandes quantias com produtos e serviços estrangeiros, enquanto universidades e centros de pesquisa enfrentam dificuldades financeiras. Ergon Cugler, coordenador do estudo e pesquisador da FGV, critica a decisão do governo, afirmando que o dinheiro público está sendo usado para financiar a inovação em outros países, em vez de ser investido em inovação nacional. Ele defende que o fortalecimento da capacidade científica nacional, a geração de empregos qualificados e o desenvolvimento de soluções tecnológicas próprias são prejudicados por essa política. A pesquisa também levanta preocupações sobre a dependência tecnológica do Brasil em relação a grandes empresas estrangeiras, com potenciais impactos negativos na soberania tecnológica do país. Leia a matéria completa. Fonte: Jornal da USP, RT Brasil e Brasil 247.

O Brasil e a encruzilhada da hegemonia americana

Por Philip Yang – A imposição de tarifas pelo governo Trump contra o Brasil não é um ato de protecionismo, mas sim um sintoma da profunda transformação do poder global. Entender este cenário é crucial para que a resposta brasileira seja verdadeiramente estratégica e soberana, e não uma reação imediatista ditada por interesses setoriais. A agressividade americana atual não nasce de uma posição de força, mas de uma crescente vulnerabilidade estrutural. A história pode nos ensinar: impérios permanecem hegemônicos enquanto produzem mais do que consomem. Romanos, persas, otomanos ou britânicos reinaram enquanto mantiveram superávits comerciais substantivos em relação ao resto do mundo. Os Estados Unidos, no entanto, representam uma anomalia histórica: mantêm um imenso poder global mesmo com um déficit comercial crônico que sobrevive há mais de meio século. A fórmula para essa deformidade é o “privilégio exorbitante” de controlar a moeda de reserva internacional. Ao emitir o dólar – o dinheiro que o mundo mais usa – os Estados Unidos financiam seu próprio consumo e uma máquina de guerra formidável, abrindo espaço para gastar muito mais do que produzem. A questão fundamental é: até quando a supremacia do dólar pode mascarar o crescente declínio relativo da sua economia real? Hoje o lastro da economia real americana é visivelmente menor, e a ascensão da China cria um desafio sem precedentes com a reconfiguração do mapa do comércio e da tecnologia global. Segundo estudo recente do Instituto Australiano de Política Estratégica (Aspi), a China vem liderando o processo de inovação em 37 das 44 tecnologias críticas que definem o nosso futuro. Construíram 48 mil km de ferrovias de alta velocidade – 70% da rede ferroviária desse tipo em todo o mundo – em quinze anos. Controlam 90% da capacidade de processamento e refino de terras raras. Formam 1,5 milhão de engenheiros por ano (seis vezes mais do que os Estados Unidos) e, no campo da robótica e automação industrial, vem produzindo centenas de milhares de unidades de robôs por ano. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Revista Piauí.

Brasil registra recorde de feminicídios: principais vítimas são mulheres negras

O Brasil está entre os cinco países do mundo que mais matam mulheres. Um fato triste que deveria incomodar todos os brasileiros. E merecia uma boa campanha do governo contra essa covadia cada vez mais corriqueira. No ano passado, batemos o nosso próprio recorde, quando foram registradas 1.492 vítimas de feminicídio no país. A pesquisa mostra que 97% dos feminicídios com autoria conhecida foram cometidos por homens. Esse número seria três vezes maior se as tentativas de matar mulheres tivessem sido bem sucedidas: 3.870 escaparam de ser mortas. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados no dia 24/07/2025. A rede de proteção estatal tem se mostrado insuficiente para proteger as mulheres. Os dados mostram que 121 mulheres, mesmo com medidas protetivas de urgência ativas contra seus agressores, foram mortas em 2023 e 2024. E mais de 100 mil registros de descumprimento de medidas foram notificados em 2024. O Anuário revelou que as mulheres negras seguem como as principais vítimas da violência de gênero no Brasil. A maioria das vítimas eram jovens e mortas dentro de casa. No ano passado, elas representaram 63,6% dos casos de feminicídio, enquanto mulheres brancas foram 35,7%. A pesquisadora Juliana Brandão, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta que o cenário é de “violência institucional”, agravado pela ausência de estatísticas detalhadas, imprecisão nos registros de crimes raciais e falhas na padronização dos dados — um problema persistente desde 2018. Os crimes de ódio racial também cresceram. Os registros de racismo aumentaram 26,3% entre 2023 e 2024 (de 14.919 para 18.923 casos), e os de injúria racial subiram 41,4% (de 12.813 para 18.200). Leia a matéria completa. Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 50emais.

Radiografia do feminicídio no Brasil

Por Mônica Manir – Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, os feminicídios saltaram de 527 casos em 2015 para 1.510 em 2024, um aumento de 186,53%. Foram 11.714 vítimas de feminicídio nesse intervalo de tempo, numa média de três ocorrências por dia. Entre os estados brasileiros, São Paulo lidera o ranking, com 1.590 mortes até 2024, seguido de Minas Gerais (1.501) e Rio Grande do Sul (935). No dia 9 de março, a Lei do Feminicídio (nº 13.104) completou 10 anos. Fruto da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência contra a Mulher, que vigorou no Congresso Nacional de março de 2012 a agosto de 2013, ela não apenas alterou o Código Penal, ao prever o feminicídio como circunstância qualificadora do homicídio, como incluiu esse assassinato no rol dos crimes hediondos. No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 14.994, que endureceu a 13.104 ao tornar o feminicídio um crime autônomo (que possui características próprias) e estender a pena para até 40 anos de prisão. É a maior pena prevista no Código Penal. Punições endurecem, mas mortes saltam: Em nove anos, houve aumento de 186% dos casos registrados. Leia a matéria completa. Fonte: Outras Palavras | Revista Fapesp.

De freira à feminista: a história de Fabiane Albuquerque

Por Daniela Valenga – O silêncio foi a regra imposta durante a infância e vida religiosa de Fabiane Albuquerque, mas em ‘Cartas a um homem negro que amei’ (Editora‎ Malê, 2022), a doutora em sociologia rompe com o pacto e dominação patriarcal impostos em diferentes etapas da vida. Fabiane afirma que foi o feminismo que a salvou e, mais precisamente, o feminismo negro lhe deu forças para se manter em pé, em uma jornada marcada por lutas e resistências. Em entrevista ao Catarinas, ela falou sobre os processos para romper com o silêncio imposto durante a vida, o efeito das violências sobre a vida das meninas e mulheres, o período em que esteve no convento, a importância da educação para a emancipação da população negra, o poder da palavra e da escrita como ferramentas de resistência e como a coragem é fundamental para romper ciclos de silêncio e opressão. Confira a entrevista. Fonte: Catarinas.

Documentos apresentam diagnóstico sobre a situação do racismo religioso no Brasil

Racismo religioso no ordenamento jurídico brasileiro; o acesso à justiça pelos povos e comunidades tradicionais de terreiro e de matriz africana. Encerrando a série Encontros Abre Caminhos pelo Brasil, o MIR divulgou os diagnósticos dos relatórios Socioeconômico, Social e Jurídico sobre a Situação do Racismo Religioso no Brasil. Os documentos reúnem sugestões de políticas públicas e boas práticas voltadas à superação do racismo direcionado às religiões de comunidades tradicionais de terreiro e de matriz africana, bem como ao fortalecimento desses povos. Acesse os relatórios na íntegra. Fonte: MIR.

EXPEDIENTE

MÍDIA NEGRA E FEMINISTA

Boletim Eletrônico Nacional

Periodicidade: Mensal

EDITOR

Valdisio Fernandes

EQUIPE

Allan Oliveira, Ana Santos, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Davino Nascimento, Denilson Oliveira, Enoque Matos, Flávio Passos, Glauber Santos, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Jeane Andrade, Josy Andrade, Josy Azeviche, Leila Xavier, Luan Thambo, Lidia Matos, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Naira Silva, Patricia Jesus, Poliana Silva, Ronaldo Oliveira, Roselir Baptista, Silvanei Oliveira, Tamiris Rizzo.

MÍDIA NEGRA E FEMINISTA, ANO XXI – EDIÇÃO Nº245 – AGOSTO 2025

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