Boletim Mensal do Instituto Búzios – Mídia Negra e Feminista

 

Download:

INSTITUTO BUZIOS INFORME_230 MAIO 2024

MÍDIA NEGRA E FEMINISTA

ANO XX – EDIÇÃO Nº230 – MAIO 2024

Análise: Como o comportamento das polícias espelha projetos e ideologias de governos e governantes

Por Jacqueline Muniz – Dois casos emblemáticos de abuso policial foram destaque na mídia nos últimos dias. Em São Paulo, policiais militares foram afastados depois de imobilizarem e agredirem um músico negro, jogando spray de pimenta nos seus olhos. Nos Estados Unidos, um homem negro morreu asfixiado durante uma abordagem policial. Antes de morrer o homem repetiu várias vezes a frase “não consigo respirar”, a mesma dita por George Floyd, morto em uma abordagem policial em 2020. A frase se tornou símbolo dos protestos antifascistas contra a violência policial no mundo todo. Aqui no Brasil, com exclusividade para o The Conversation, a socióloga e antropóloga Jacqueline Muniz avalia que a capacidade coercitiva de uma polícia materializa as prioridades e escolhas políticas e ideológicas de um determinado governo. Leia o artigo na íntegra. Fonte: The Conversation | Foto: Fernando Frazão, Abr.

Gabriele Leite: a jovem violonista negra enaltecida mundialmente

Por Leonardo Neiva – Em Cerquilho, cidade de 45 mil habitantes a 150 km de São Paulo, Gabriele Leite cresceu em uma casa musical. Sua mãe, a costureira Edelzuita Rodrigues dos Santos Leite, adorava dançar e sempre ouvia samba de roda, Fundo de Quintal das antigas, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e Alcione. O mecânico industrial Roberto Leite, seu pai, que gostava de James Brown e Luciano Pavarotti, notou que a filha demonstrava um encanto muito particular pela música – aos 4 anos, sua brincadeira favorita era fazer de conta que a vassoura era um violão, e os baldes da casa, uma bateria. Roberto pediu a um amigo que copiasse, em um CD, músicas de Dilermando Reis, Garoto e Francisco Tárrega, entre outros clássicos do violão. Aos 6 anos, a menina ganhou dois presentes que definiriam sua carreira: esse CD e um violão, dado pelo avô Éfito Reis. Em 2020, em voo para os Estados Unidos, Gabriele Leite foi aceita no mestrado em Performance Musical da Manhattan School of Music, em Nova York (EUA), com bolsa integral da Sociedade Cultura Artística. Após o fim do curso, a violonista permaneceu e se aprimorou nos EUA, país onde atualmente é Doutoranda em Performance Musical pela Stony Brook University, instituição de Nova York (EUA). Hoje com 26 anos, Gabriele Leite lançou no fim do ano passado seu primeiro álbum, Territórios, com quatro peças de alto nível técnico para violão clássico, que chega ao mercado fonográfico pela gravadora carioca Rocinante em edição digital e em LP. A jovem violonista negra acumula prêmios e vitórias em concursos. Em 2022, uma apresentação dela foi recomendada pelo New York Times. Considerada um dos maiores prodígios contemporâneos no instrumento pela crítica especializada, Leite chegou a figurar na lista Under 30 da revista Forbes como destaque na música brasileira em 2020. Leia a entrevista na íntegra. Fonte: Revista Gama e Revista Piauí.

Como o Ocidente perdeu o controle do mercado do ouro

Por Henry Johnston – O poder de fixar preços num mercado desde há muito dominado pela moeda institucional ocidental está a deslocar-se para Leste e as implicações são profundas. O preço do ouro tem subido ultimamente para uma série de novos máximos históricos, um desenvolvimento que tem recebido apenas uma atenção superficial nos media financeiros mainstream. Mas, tal como se verifica atualmente com muitas outras coisas, há muito mais a acontecer do que parece. Durante milhares de anos, o ouro foi a última reserva de valor e era sinónimo do conceito de “dinheiro”. O comércio era frequentemente liquidado em ouro ou em notas bancárias garantidas por ouro e diretamente trocáveis por ele. As moedas baseadas apenas em decretos governamentais – chamadas moedas “fiduciárias” (fiat) – tendem a fracassar. No entanto, em 1971, o ouro viu-se expulso deste antigo papel quando os EUA suspenderam unilateralmente a convertibilidade do dólar em ouro, consagrada no acordo de Bretton Woods que estabelecera o quadro para a economia do pós-guerra. Nos últimos anos o apetite voraz dos bancos centrais por ouro físico e a procura extremamente forte por parte do sector privado na China estão na base da recuperação do ouro nas reservas internacionais dos países. É difícil saber exatamente que bancos centrais estão a comprar e quanto estão a comprar, porque estas compras têm lugar no opaco mercado de balcão. Os bancos centrais comunicam as suas compras de ouro ao FMI, mas, como salientou o Financial Times, os fluxos globais do metal sugerem que o nível real de compras por parte das instituições financeiras oficiais – especialmente na China e na Rússia – excedeu em muito o que foi comunicado. As compras recordes de ouro representam uma espécie de “desdolarização oculta”. Isto está a ser feito não só porque a transformação do dólar em arma de sanções econômicas introduziu uma ameaça até agora inimaginável às reservas de dólares, mas também por causa da crescente crise da dívida dos EUA, que se parece cada vez mais com uma espiral. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Pátria Latina.

Como os terreiros enfrentaram a ditadura?

Por Ana Paula Mendes de Miranda e Leonardo Vieira Silva – Muito já foi escrito sobre o papel de destaque da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) na luta contra a repressão e defesa dos direitos humanos no enfrentamento à ditadura civil-militar, que teve relação direta com as mudanças nas diretrizes pastorais e teológicas internas e o progressivo endurecimento da ordem política e social após 1964. A proeminência do tema está diretamente relacionada ao seu protagonismo nacional à época. Ao contrário do senso comum, que afirma que religião e política não se discutem, gostaríamos de observar que este tema sempre esteve presente no cotidiano e na vida pública. Nossa proposta é tratá-lo a partir de um tema que sempre ficou fora do debate público: a perseguição aos terreiros durante a ditadura civil-militar no Brasil. Nosso objetivo é analisar o jogo duplo do regime. No Nordeste, a umbanda era perseguida. Templos, invadidos. E adeptos, torturados. Até um grupo de extermínio foi criado para reprimi-la. Mas, no eixo Rio-SP, ela era celebrada como expressão da “democracia racial”. Neste contexto, a elaboração e reelaboração de estratégias de resistência passou a fazer parte do cotidiano dos terreiros. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Biblioteca Virtual do Pensamento Social (BVPS).

Direitos Sexuais e Reprodutivos, Religiões e Punição

O campo de disputa política por direitos sexuais e reprodutivos está intimamente conectado à luta antipunitivista. Por mais que a possível – e necessária – aliança entre feminismos e abolicionismos penais seja, muitas vezes, atravessada por tensões e desencontros, a atual conjuntura convoca a sociedade civil e movimentos sociais a explorar as significativas imbricações entre essas agendas de direitos. O Instituto de Estudos da Religião – ISER desenvolveu pesquisas e buscou ampliar o questionamento dos processos de criminalização que atingem principalmente as mulheres negras e da classe trabalhadora, com objetivo de contribuir para o debate sobre a questão do aborto, sobretudo considerando os embates no campo religioso. A presente publicação visa contribuir na luta pela dignidade de todas as pessoas que, por decidirem não gestar, têm suas vidas atravessadas pelas agências penais de Estado; assim como daquelas que têm o exercício pleno da maternidade/paternidade interditado pela violência do cárcere. Para dar conta desse desafio, esta edição contou com a competência das pesquisadoras e ativistas: Maria José Rosado (Zeca), Emanuelle Góes e Lusmarina Campos Garcia. As três organizadoras convidadas, em diálogo com a equipe da área de Direitos e Sistema de Justiça ISER, compuseram um mosaico plural de textos que explicitam as tensões e os possíveis e potentes diálogos entre as demandas por direitos sexuais e reprodutivos, a luta antipunitivista e o campo religioso no Brasil. Acesse a publicação. Fonte: ISER.

Direito à Comunicação no primeiro ano do atual governo Lula

Nova lei articulada por elites empresariais e evangélicas aprofunda concentração. Lei dobra quantidade de canais de TV para o mesmo grupo e consolida oligopólios midiáticos. Pautas históricas para a democratização do setor seguem sem perspectiva de ação do governo federal. Quais setores o governo Lula tem escolhido como aliados do seu mandato de “união e reconstrução” no campo da comunicação? O Ministério das Comunicações foi entregue a um radiodifusor: poder político e elites econômicas permanecem de mãos dadas. Na comunicação pública, não houve medidas efetivas para retomar o caráter público da EBC. Junto a Ministérios e ao Congresso Nacional, big techs influenciam as decisões (e não-decisões) sobre regulação das plataformas. Faltaram ações para enfrentar a lógica punitivista reforçada pela TV (programas policialescos) e no digital (reconhecimento facial). Colonialismo verde, violência de gênero online e violência contra comunicadores/as seguem em pauta. Temas do especial “Algo de novo sob o sol? Direito à Comunicação no primeiro ano do atual governo Lula”, produzido pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, com edição de Ana Veloso, Patrícia Paixão de O. Leite e Paulo Victor Melo. Leia a reportagem especial. Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil.

Os estudantes estão novamente do lado certo da história

Por Bruno Fabricio Alcebino da Silva – Assim como nos protestos estudantis durante a Guerra do Vietnã e o movimento estudantil de Maio de 1968, os atuais protestos nas universidades dos Estados Unidos refletem uma geração de estudantes engajados e politicamente ativos. Na década de 1960, intelectuais como Herbert Marcuse (1898-1979) inspiraram jovens a desafiar o status quo, questionando a autoridade e buscando mudanças sociais significativas. Da mesma forma, os estudantes de hoje estão se levantando contra a injustiça e a violência, buscando conscientizar e promover mudanças em questões como a guerra em Gaza e os laços de suas instituições com Israel. Esses paralelos históricos destacam a persistência do ativismo estudantil como uma força motriz na luta por um mundo mais justo e igualitário. Os protestos pró-Palestina nos campus universitários representam não apenas uma expressão legítima de solidariedade, mas também um lembrete poderoso do papel vital que a juventude desempenha na luta por justiça e dignidade. É hora de ouvir suas vozes, em vez de silenciá-las, e de trabalhar juntos para construir um mundo onde todos os povos possam viver em paz e liberdade. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Jacobin Brasil.

Anticorrupção e pontos cegos imperialistas: o papel dos EUA no longo golpe do Brasil

Por Brian Mier, Bryan Pitts, Kathy Swart, Rafael T. Ioris e Sean T. Mitchell – Um exame abrangente das evidências disponíveis, contidas em declarações do governo norte-americano, contas de mídia em inglês e conversas hackeadas no Telegram entre procuradores brasileiros, indica que os Estados Unidos, durante o governo de Barack Obama, estiveram intimamente envolvidos no “longo golpe” que tirou a esquerda do poder no Brasil em 2016 e garantiu a eleição da extrema direita em 2018. Assim como após o golpe de 1964, também apoiado pelos Estados Unidos, essa evidência foi inicialmente ignorada por estudiosos norte-americanos. No final de 2018, o progresso do Brasil havia sido suspenso, se não revertido. O PT havia sido retirado do poder em 2016 por meio do impeachment espúrio da sucessora de Lula, Dilma Rousseff. Seu ex-vice, o centro-direitista Michel Temer, havia imposto um retorno ao neoliberalismo, com privatizações e concessões ‘a petroleiras estrangeiras. Entre 2014 e 2019, a desigualdade aumentava rapidamente, em ritmo semelhante à queda histórica entre 2001 e 2014. A metade mais pobre da população brasileira perderia 17,1% de sua renda, enquanto os 10% mais ricos ganhariam 2,55% e o 1% mais rico, 10,11%. A Operação Lava Jato liderada por Sérgio Moro, se valeu de delações premiadas, cooperação internacional, confisco de ativos e exame direto para processar crimes financeiros – não de terroristas, mas de políticos e empresas de construção e energia, notadamente a estatal de petróleo, a Petrobras. De fato, a crise econômica que corroeu a popularidade do PT foi alimentada pelo ataque da Lava Jato às maiores empresas do Brasil (Paula e Moura, 2021). Mas a maior vitória da Lava Jato foi a prisão de Lula – então líder das pesquisas presidenciais de 2018 – depois impedido de concorrer no pleito, o que levou à eleição de Jair Bolsonaro. Como as mensagens privadas hackeadas do aplicativo Telegram e vazadas para o The Intercept viriam a comprovar mais tarde, a Lava Jato trabalhou justamente para esses fins. Confira as evidências do papel dos EUA na Lava Jato nas próprias palavras do Tio Sam. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Jornal GGN.

Amazônia em pé tem riqueza estimada em US$ 317 bilhões

Por Pedro Sales – Amazônia desbanca bilionários e é eleita a mais rica do mundo pela Forbes. O francês Bernard Arnault, dono do conglomerado LVMH (Louis-Vuitton Möet Hennesy), o sul-africano Elon Musk, fundador da Tesla e dono do X (antigo Twitter), e Jeff Bezos, dono da Amazon, são três bilionários que sucessivamente se alternam na posição de homem mais rico do mundo. Nas versões digital e para assinantes da edição anual da Forbes Bilionários do ano, no entanto, quem ocupa a posição central é um bioma que se estende por oito países, mas é mundialmente associado ao Brasil, a Amazônia. A capa da cultuada revista de negócios e economia carrega os dizeres “a mais rica do mundo é brasileira” com uma imagem da Amazônia estampada. A inclusão do bioma na edição que apresenta o ranking dos mais ricos do mundo respeita a avaliação do Banco Mundial. Segundo o órgão, a Amazônia em pé tem riqueza estimada em US$ 317 bilhões. Ainda conforme o estudo, as atividades de preservação da floresta amazônica geram riqueza sete vezes maior do que por meio de atividades de exploração econômica da região que dependem da destruição do bioma, como o desflorestamento, por exemplo. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Congresso em Foco, Blog do Sylvio.

Augusto Boal e a imaginação no poder

Por Raíssa Araújo Pacheco – No dia 2 de maio de 2009 faleceu o prestigiado dramaturgo brasileiro Augusto Boal. Conhecido como um dos grandes expoentes do teatro contemporâneo internacional. O teatrólogo é conhecido por ser o fundador do Teatro do Oprimido, um conjunto de técnicas que, aliando o teatro à ação social, denunciam as desigualdades sociais ao passo que buscam a emancipação política através da democratização da produção teatral. Porém, suas inovações se espraiam até mesmo pelas estruturas da política institucional. Boal inovou não só no teatro, mas também na maneira de exercer um cargo político. O teatrólogo exerceu seu cargo de vereador de maneira pioneira, dando início ao que hoje chamamos de “mandato coletivo”. A obra Teatro legislativo, relançada pela Editora 34, compartilha essas experiências. Leia a matéria completa. Fonte: Outras Palavras.

EXPEDIENTE

MÍDIA NEGRA E FEMINISTA

Boletim Eletrônico Nacional

Periodicidade: Mensal

EDITOR

Valdisio Fernandes

EQUIPE

Allan Oliveira, Aline Alsan, Ana Santos, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Denilson Oliveira, Enoque Matos, Glauber Santos, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Keu Sousa, Jeane Andrade, Josy Andrade, Josy Azeviche, Leila Xavier, Luan Thambo, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Patricia Jesus, Ronaldo Oliveira, Roselir Baptista, Silvanei Oliveira, Tamiris Rizzo.

MÍDIA NEGRA E FEMINISTA ANO XIX – EDIÇÃO Nº229 – ABRIL 2024

Siga-nos

INSTAGRAM

Arquivo