Um artigo escrito a cinco mãos – Brian Mier, Bryan Pitts, Kathy Swart, Rafael Ioris e Sen Michel – sobre o papel dos Estados Unidos [durante o governo de Barack Obama] no golpe da Lava Jato (https://tinyl.io/Aeq6) mostra que o Xadrez do GGN foi o primeiro a antecipar o jogo geopolítico.

“Na verdade, já em 2016, muito antes de a Operação Spoofing ter tornado inequívoco que a Lava Jato servia fins políticos com o apoio dos Estados Unidos, o jornalista brasileiro Luis Nassif (2016) traçou algumas destas ligações. Ele observou que as ações da Lava Jato sugeriam amplo conhecimento sobre os supostos delitos da Petrobras e que os vazamentos de Snowden mostraram que os Estados Unidos têm interesses na Petrobras”.

 

Por Brian Mier, Bryan Pitts, Kathy Swart, Rafael T. Ioris e Sean T. Mitchell

Resumo

Um exame abrangente das evidências disponíveis, contidas em declarações do governo norte-americano, contas de mídia em inglês e conversas hackeadas no Telegram entre procuradores brasileiros, indica que os Estados Unidos estiveram intimamente envolvidos no “longo golpe” que tirou a esquerda do poder no Brasil em 2016 e garantiu a eleição da extrema direita em 2018. Assim como após o golpe de 1964, também apoiado pelos Estados Unidos, essa evidência foi inicialmente ignorada por estudiosos norte-americanos. Tais especialistas, conhecidos como latino-americanistas, fariam bem em retornar à tradição anti-imperialista que ajudou a estabelecer nosso campo como um dos principais críticos da política externa dos EUA.

Introdução

Em outubro de 2009, o Brasil finalmente começava a cumprir sua promessa como “terra do futuro”, conforme o havia apelidado o famoso autor austríaco Stefan Zweig (2018 [1941]). Sob a presidência esquerdista de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), o Brasil tirava dezenas de milhões da pobreza, expandia o ensino superior e assumia um papel de destaque na política regional e global. No dia 2 de outubro, o Comitê Olímpico Internacional concedera ao Rio de Janeiro a missão de sediar os Jogos Olímpicos de 2016. E um mês depois, a revista The Economist (2009) anunciava a ascensão do Brasil no mundo, com a manchete de capa “O Brasil decola” e um gráfico do Cristo Redentor do Rio sendo lançado como um foguete. Para muitos brasileiros, foram tempos inebriantes.

Dois dias após o anúncio olímpico, o Rio sediou outro encontro importante, com juízes, promotores e policiais de todos os 26 estados, Brasília e outros seis países latino-americanos, reunidos para uma conferência de seis dias organizada pela Embaixada dos EUA, com financiamento da Coordenadoria do Contraterrorismo do estado do Rio de Janeiro. O evento acabaria tratando menos de combate ao terrorismo do que crimes financeiros. Os participantes receberam aulas sobre “cooperação internacional formal e informal, confisco de bens, métodos de prova, esquemas de pirâmide, delação premiada [e] uso do interrogação direta como ferramenta”. Um dos palestrantes, o então juiz federal Sérgio Moro, compartilhou insights sobre a persecução penal contra a lavagem de dinheiro. O funcionário consular que se reportava a Washington sugeriu que mais treinamento judicial poderia ser fornecido, por meio de uma força-tarefa em São Paulo, Campo Grande ou Curitiba (Kubiske, 2009).

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