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ANO XX – EDIÇÃO Nº246 – SETEMBRO 2025
A pesquisa que demoliu o mito da democracia racial: “O negro no mundo dos brancos”
[Presença dos negros na arte brasileira: período colonial à atualidade. Crédito da imagem: Sergio Astral]
Por Francisco Teixeira – O negro no mundo dos brancos, publicado em 1972, é uma coletânea de artigos e ensaios escritos por Florestan Fernandes ao longo da década de 1960. A obra reúne reflexões fundamentais sobre as relações raciais no Brasil, abordando de forma crítica o mito da democracia racial e o racismo estrutural presente na sociedade brasileira. Os ensaios reunidos nessa obra têm origem em uma pesquisa realizada por Florestan Fernandes, em parceria com Roger Bastide, na cidade de São Paulo, entre 1951 e 1955. Essa pesquisa integrou um amplo projeto internacional patrocinado pela UNESCO, que buscava compreender por que o Brasil, apesar de sua história de escravidão, não havia desenvolvido um racismo aberto e violento como o dos Estados Unidos. Influenciada pela ideia do mito da democracia racial, a instituição acreditava que o Brasil poderia servir como um “modelo” de convivência racial pacífica. Os resultados da pesquisa patrocinada pela UNESCO contrariaram as expectativas da própria instituição. A ideia de que a colonização brasileira teria criado, em suas terras tropicais, um verdadeiro paraíso racial não foi confirmada. A visão edênica da escravidão, defendida por Gilberto Freyre, mostrou-se insustentável à luz dos dados empíricos. Os dados da pesquisa patrocinada pela UNESCO revelaram uma realidade muito distante daquela idealizada pelos epígonos da democracia racial. Leia o artigo na íntegra. Fonte: A Terra é Redonda.
Noção de parditude é equivocada e representa regressão no debate racial do país
Pretos e pardos compartilham experiência de violência; instituir nova categoria é inflexão perigosa na luta antirracista. A ideia de parditude não é lastreada conceitualmente no extenso debate sobre a questão racial brasileira e é politicamente regressiva, sustentam autores. A nova categoria proposta, ainda que apresentada sob o pretexto de dar visibilidade a experiências subjetivas de pessoas racializadas, fragmenta o campo negro do país e é funcional aos interesses da branquitude por enfraquecer o pacto coletivo que sustentou a construção das ações afirmativas e a denúncia do racismo institucional. Um dos temas mais recorrentes e delicados nesse debate dizem respeito ao sentimento de não pertencimento vivenciado por sujeitos que, embora racializados, não se reconhecem plenamente como brancos, negros ou indígenas. Muitas dessas pessoas descrevem sua posição social como ambígua e marcada por exclusões simbólicas de ambas as margens do espectro racial, como se houvesse simetria entre o racismo das pessoas brancas que lhes é dirigido e um eventual comentário de uma pessoa negra que questiona o entendimento da pessoa parda a respeito de sua negritude. Esse sentimento, real e legítimo, tem sido frequentemente mobilizado para tensionar critérios de pertencimento racial, especialmente em contextos como as bancas de heteroidentificação em processos seletivos vinculados às políticas de ação afirmativa. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Folha de São Paulo.
Desafios da Soberania Informacional no Brasil: Um Guia de Resistência Popular à Guerra Algorítmica
Este report, elaborado pelo Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC) e a Rádio Atitude Popular, oferece um diagnóstico profundo e estratégico dos riscos, vulnerabilidades e desafios que ameaçam a soberania informacional do Brasil em meio à intensificação da guerra híbrida global. A partir de uma perspectiva crítica, o documento demonstra como a captura da infraestrutura digital brasileira por corporações estrangeiras, a ausência de regulação efetiva sobre plataformas digitais, o uso político de algoritmos de manipulação comportamental e a desorganização do campo democrático diante da guerra informacional colocam o país em um estado de vulnerabilidade estrutural. Mais do que um alerta, este report é um guia de ação. Aponta soluções concretas, detalhadas e viáveis para a reconstrução da soberania informacional brasileira, com propostas que envolvem: regulação democrática das plataformas; criação de tecnologias públicas e auditáveis; desenvolvimento de uma nuvem soberana nacional; incentivo à infraestrutura comunitária e descentralizada; formação massiva da militância digital; mobilização popular territorializada; e a construção de uma doutrina nacional de defesa informacional. Este é um documento de enfrentamento e organização. Um chamado ao levante digital popular e à reorganização técnica, política e cultural da luta democrática no Brasil. Porque sem soberania informacional, não há soberania possível. E sem ela, o futuro do país está condenado à tutela algorítmica, à submissão silenciosa e à destruição do projeto democrático brasileiro. Acesse o guia de resistência à guerra algorítmica. Fonte: Atitude Popular.
A engrenagem oculta da mídia ocidental
Por Reynaldo Aragon – O que você lê nos jornais, vê nos telejornais e compartilha nas redes não surge de forma espontânea. Por trás do mainstream, há uma rede densa de think tanks, fundações filantrópicas, agências de Estado, universidades de prestígio e plataformas digitais que financiam, formam e pautam narrativas. Este artigo revela, em detalhes, como essa engrenagem funciona e como sustenta a hegemonia cultural e política do Ocidente há décadas. Ao contrário do que se imagina, a chamada imprensa mainstream não é o ponto de partida da informação: é apenas a ponta visível de um ecossistema denso, construído historicamente para fabricar consenso. Neste artigo, vamos desvelar essa engrenagem. Mostrar quem são as instituições que a compõem, quem as financia, quais interesses estão por trás de seus relatórios, seminários e bolsas. Vamos seguir o caminho do dinheiro e das ideias, revelando como o Ocidente transformou think tanks, fundações e universidades em armas culturais. E, sobretudo, vamos expor como esse modelo se replicou no Sul Global, fazendo do Brasil e da América Latina laboratórios privilegiados dessa guerra cultural. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Código Aberto.
Racismo institucional: o modo como definimos também define como agimos
Por Gustavo Forde – A escrita deste artigo foi instigada a partir da constatação que vivemos tempos de abstrações excessivas e algumas utilizações difusas em torno do conceito racismo institucional. Abstrações e usos difusos que muitas vezes distancia o conceito ‘racismo institucional’ da necessária implicação e/ou responsabilização de pessoas e/ou de grupos humanos; tal como se fosse “algo” existente fora das intencionalidades humanas, ou seja, fosse atribuído à “alguma suposta estrutura abstrata” (e, sendo abstrata, não há motivo para se pensar na responsabilização e implicação de pessoas!). Trata de uma breve reflexão que faço motivado pela necessidade – individual e coletiva – com propósito de abrir um diálogo reflexivo retomando algumas obviedades. Leia o artigo na íntegra. Fonte: A Gazeta.
Entrevista | Jones Manoel: reflexões sobre o socialismo e a revolução no século 20
Por Pedro Marin – Em entrevista à Opera, Jones Manoel fala de seu novo livro “A batalha pela memória – reflexões sobre o socialismo e a revolução no século 20“, seu balanço sobre o movimento comunista no século 20 e do que o motivou a mergulhar no Brasil. “Eu acho que nós temos que partir de uma análise: o movimento comunista brasileiro nos últimos 30 anos esteve totalmente afastado do movimento de massas. Salvo pequenas exceções, muito mais de caráter local, no plano nacional nós temos um movimento comunista que não é nem um protagonista nem um ator político de importância média na luta de classes no Brasil”, diz Jones Manoel. “Os comunistas hoje não pautam nenhum tema estratégico para o país na luta de classes, nem como movimento de massas, nem como corrente de opinião”, lamenta. As duras constatações não abalam a certeza desse pernambucano de 34 anos na necessidade de uma revolução no Brasil. Leia a entrevista na íntegra. Fonte: Revista Opera.
Pesquisa: Racismo digital atinge principalmente mulheres negras
Por Letícia Alcântara – A escalada do racismo online no Brasil. Estudo do Aláfia Lab, “Brasil, mostra sua cara: Retrato das vítimas de racismo online e o anonimato de seus agressores” que analisou denúncias de racismo registradas entre 2011 e 2025 a partir de dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, resultou em dados alarmantes: as queixas cresceram fortemente a partir de 2020 e atingiram um recorde histórico em 2024. Entre as vítimas, como sempre, a maioria são mulheres negras. Outro dado importante é que os casos de racismo contra mulheres frequentemente vêm acompanhados de difamação, ameaça, coação, tortura psíquica e assédio moral. A pesquisa “Brasil, mostra sua cara” soma-se às investigações sobre as manifestações contemporâneas do racismo. Ao capturar estratégias digitais de violência, ela busca orientar o debate público, políticas públicas e o Judiciário para enfrentar uma mazela social que impacta profundamente a sociedade brasileira. Acesse a pesquisa na íntegra. Fonte: The Conversation Brasil.
Precisamos recordar as raízes vermelhas do Hip-Hop
Por Spensy Pimentel – O livro vermelho do Hip-Hop possui uma longa história, de quase 30 anos. Filho de um fã de Jorge Ben e James Brown, eu me encantei com o Hip-Hop desde menino, no interior do Mato Grosso do Sul: gravava as apresentações que gente como Thaíde fazia na TV, no final dos anos 1980, para transcrever e decorar as letras, depois cantava com os amigos, em roda, acompanhado pelo beat box. Compunha meus próprios raps, depois, quando morei em Brasília, em 1993, e, frequentando a loja da gravadora Discovery, no Conic, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente rappers como X e Jamaika. Em São Paulo, ia aos shows de rap e às galerias na 24 de Maio. Quando tive de apresentar um trabalho de conclusão no curso de Jornalismo na Universidade de São Paulo (USP), foi natural escolher o tema. Para mim, era, em primeiro lugar, uma homenagem aos artistas que eu tanto admirava e uma contribuição que eu, que não sabia dançar, grafitar, versar ou tocar nas picapes, poderia dar ao movimento. Algo para se integrar, então, ao que se costuma denominar de “quinto elemento” do Hip-Hop, o conhecimento. Leia o resumo na íntegra. Fonte: Jacobin Brasil.
Povos originários e legado colonial eurocêntrico: como a história revisitada molda as Américas?
Após séculos de predomínio da visão europeia nos livros didáticos sobre a colonização das Américas, uma nova vertente tem ganhado cada vez mais importância na região: a valorização dos povos originários na constituição cultural e econômica das nações americanas. Especialistas analisam os impactos desse novo processo na constituição dos Estados. Dos avançados saberes do povo inca, que deixaram vestígios de uso do ouro em cirurgias cranianas realizadas há mais de 1.600 anos, até a estrutura urbana de cidades astecas, com padrões sofisticados de infraestrutura, o conhecimento dos povos originários foi, por séculos, deixado de lado para fazer frente a uma visão europeia sobre o seu próprio passado. Assim permaneceram moldadas as populações das Américas, em que a colonização era tratada pela história como crucial para “trazer civilidade” pela Europa. Entretanto, de umas décadas para cá, o revisionismo histórico tem dado outro papel aos povos que originalmente formaram o continente americano e tem impulsionado, inclusive, mudanças importantes nos Estados modernos. É o que explica ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o historiador e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Daniel Aarão Reis Filho, sobre esse fenômeno que tem questionado cada vez mais a destruição causada por portugueses, espanhóis, franceses e ingleses, por exemplo, nos tantos anos de exploração desenfreada da região. Leia a matéria completa. Fonte: Sputnik Brasil / Pátria Latina.
Valério Arcary: Um novo ciclo da esquerda brasileira?
Por Valério Arcary – Entre o peso do lulismo e a urgência de um novo ciclo, a esquerda navega em águas turbulentas. Sem a chama das ruas ou uma alternativa à altura, o PT segue como gigante de pés de barro. Mas a história não se repete passivamente: o inesperado pode brotar da luta que ainda não se vê. A reorganização da esquerda brasileira é um processo que já se iniciou, mas se desenvolve muito lentamente. Será que estamos no alvorecer de um ciclo para além dos limites do lulismo? Há muitas variáveis indefinidas. As duas mais importantes são indissociáveis, e nos remetem ao centro do enigma: se a esquerda será capaz de derrotar a extrema direita e, se nesse processo que vai passar pelas eleições de 2026, assistiremos a uma elevação da disposição de luta dos trabalhadores e da juventude. Esta são as duas questões centrais. O que a história nos ensina é que não há como abrir um ciclo superior ao lulismo sem a derrota do bolsonarismo, e sem um ascenso da luta de massas. Se o que prevalecer for uma derrota, continuaremos a ver as divisões, rachas e dispersão na esquerda. Será uma regressão, e teremos um intervalo histórico como foi depois de 1964, oxalá não tão grande. A força da consciência é aposta, vontade, projeto e programa. Marxismo é militância. Vai ser necessário abrir o caminho para novas ferramentas, tanto na esfera dos movimentos sociais, em especial o feminista e negro, quanto para a luta política, que exige um instrumento mais forte do que aqueles que temos hoje disponíveis. Leia o artigo na íntegra. Fonte: A Terra é redonda.
EXPEDIENTE
MÍDIA NEGRA E FEMINISTA
Boletim Eletrônico Nacional
Periodicidade: Mensal
EDITOR
Valdisio Fernandes
EQUIPE
Allan Oliveira, Ana Santos, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Davino Nascimento, Denilson Oliveira, Enoque Matos, Flávio Passos, Glauber Santos, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Jeane Andrade, Josy Andrade, Josy Azeviche, Leila Xavier, Luan Thambo, Lidia Matos, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Naira Silva, Patricia Jesus, Poliana Silva, Ronaldo Oliveira, Roselir Baptista, Silvanei Oliveira, Tamiris Rizzo.