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MÍDIA NEGRA E FEMINISTA
ANO XX – EDIÇÃO Nº242 – MAIO 2025
A construção da Marcha Nacional das Mulheres Negras e a esquerda
Por Juliana Gonçalves – Fui formada politicamente pelo Movimento Negro, em especial pelo Movimento de Mulheres Negras (28% da população brasileira), composto por muitas irmãs de luta que trilharam e ainda trilham um árduo caminho no enfrentamento do patriarcado, do racismo e da pobreza e de todas as formas de preconceito e discriminação. A Marcha das Mulheres Negras tem muitas histórias, e vou lembrar uma delas: em 1985, aconteceu o 3º Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, em Bertioga (SP). Há um vídeo na plataforma Cultne em que podemos ver a jovem Luiza Bairros, que representava ali o Movimento Negro Unificado (MNU). Luiza se levantou em um encontro muito parecido com este que vivemos aqui, no Festival Mulheres em Luta, para relembrar o quanto as mulheres negras foram essenciais para a sustentação da luta feminista — e como era necessário que o feminismo “universal” olhasse de maneira séria para as especificidades das mulheres não brancas. A Marcha de 2015 foi o último movimento popular e massivo a ocupar Brasília antes do golpe que tirou a presidenta Dilma Rousseff do poder. Vale lembrar que fomos recebidas ali a tiros por um acampamento que pedia a volta da ditadura militar. Dilma nos recebeu naquele dia, depois de ver o tamanho da nossa mobilização. Entregamos em suas mãos um documento muito importante: a Carta das Mulheres Negras de 2015, que trazia nossa visão de mundo e nossas reivindicações. Minha tarefa aqui é abordar a construção da 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras – Por Reparação e Bem Viver, que ocorrerá no dia 25 de novembro de 2025, em Brasília. E, para isso, apontar a necessidade de repactuarmos as alianças entre nós, mulheres – alianças que ajudam a conectar a luta das mulheres negras à luta de todas as mulheres. Esse é também um convite desafiador para as organizações tradicionais da esquerda. Um convite para que, sim, se engajem na construção da 2ª Marcha. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Alma Preta.
Por que a sociologia redescobre W.E.B. Du Bois
Por Antonio Sérgio Alfredo Guimarães – Ele foi pioneiro ao rechaçar teorias biológicas sobre raça e o mito da miscigenação purificadora. Refutou o projeto eurocêntrico de “superar identidades” e anteviu as nações multiculturais. Hoje, Academia e ativistas negros resgatam seu pensamento. W. E. B. Du Bois foi um dos grandes intelectuais do Ocidente moderno. Tendo sido um dos fundadores da sociologia, repeliu com seus contemporâneos a noção de raça que explicava a cultura pela biologia e abraçou a fundação da ciência empírica da vida social e do comportamento humano. No entanto, ao contrário dos seus pares europeus, para quem o mundo moderno deveria se basear em novas formas de solidariedade não comunitárias, mas associativas, como as classes sociais e as categorias profissionais, abandonando formas tradicionais como as etnias, as tribos e as raças, Du Bois compreendia o mundo moderno como resultado de projetos civilizatórios de raças históricas – a anglo-saxônica, a germânica, a latina etc., que erigiam Estados-nação e impérios que se expandiam por todos os continentes. Para Du Bois, a noção de raça não poderia ser ignorada como se já não importasse na modernidade, ao contrário, só a partir dessa noção – a raça – poderiam os colonizados, principalmente os ex-escravizados, refazerem e refundarem a sua cultura para um projeto de civilização que os recolocasse em igualdade de condições na grande família humana. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Outras Palavras.
Brasil vai investir R$ 5 bilhões em computação quântica até 2034
Por Anne Silva – Ulisses Martins Rosa, coordenador de fomento e inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil (MCTI), anunciou uma nova rodada de investimentos nacionais para o desenvolvimento da computação quântica, num valor que pode chegar a R$ 5 bilhões até 2034. Até junho, de acordo com ele, uma portaria deve ser oficializada com o valor do novo investimento, que visa, entre outras coisas, combater a fuga de cérebros no setor e avançar em atividades técnicas relacionadas, como o processamento quântico. Durante a Quinta Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia (5CNCT), pesquisadores brasileiros evidenciaram a “corrida tecnológica” em curso entre as maiores potências globais, como EUA e China, que já soma mais de US$ 42 bilhões em investimentos totais para o avanço na tecnologia quântica. Os computadores quânticos são essenciais para o desenvolvimento de tecnologias avançadas no campo da inteligência artificial, em cálculos complexos realizados para estimativas e modelos econômicos, na testagem de novos medicamentos por meio de simulação molecular, na tecnologia criptográfica (que permite a geração de chaves quânticas ultrasseguras, as QKDs), em pesquisas de física e ciência dos materiais e no auxílio ao planejamento logístico e à otimização de atividades (como nos setores de transporte e telecomunicações). Leia a matéria completa. Fonte: Anne Silva, Revista Fórum e Caio Jobin, Cointelegraph Brasil.
Universidade indígena: Uma iniciativa inédita e histórica
Por Eliel Benites – A presença dos estudantes indígenas nas universidades tem crescido nos últimos anos. Os jovens indígenas buscam no ensino superior uma forma de vencer as dificuldades que vivenciam, mas também como um processo de resistência e fortalecimento cultural. Precisamos construir valores humanos que permitam o trânsito das pessoas por diversos campos de saberes. Como indígenas, sabemos que temos que transitar entre os conhecimentos ocidentais sem ser encantados por ele ou transformá-lo em verdade absoluta. É isso que possibilita o verdadeiro diálogo. É a partir dessa perspectiva que temos discutido, no Ministério dos Povos Indígenas, Ministério da Educação (MEC) e outras instâncias do governo, a criação de uma universidade indígena no Brasil. Uma iniciativa inédita, histórica e prestes a sair do papel. O Grupo de Trabalho Nacional da Universidade Indígena, criado pelo MEC em 2024, tem trabalhado para finalizar a proposta ainda esse ano. Leia o artigo na íntegra. Fonte: The Conversation Brasil.
Mary Wollstonecraft e o nascimento do feminismo
Por Maria Lygia Quartim de Moraes – Em 27 de abril de 1759 nascia Mary Wollstonecraft, em Londres, testemunha e protagonista da cena iluminista, para a qual contribuiu com a inclusão da temática da igualdade de gênero. Sua obra mais importante é “Reivindicação dos direitos da mulher”, que pode ser considerado o documento fundador do feminismo. Publicado em 1792, em resposta à Constituição Francesa de 1791, que não incluía as mulheres na categoria de cidadãs, o livro denuncia os prejuízos trazidos pelo enclausuramento feminino na exclusiva vida doméstica e pela proibição do acesso das mulheres a direitos básicos, em especial à educação formal, situação que fazia delas seres dependentes dos homens, submetidas a pais, maridos ou irmãos. Outra marca distintiva de Reivindicação é o fato de ter sido escrito por uma mulher numa época em que a vida pública era circunscrita aos homens. Sua autora, a inglesa Mary Wollstonecraft (1759-1797), foi uma intelectual libertária, uma ativista das causas dos oprimidos, cuja militância antiescravagista é hoje reconhecida oficialmente com sua introdução formal no panteão dos abolicionistas ingleses. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Boitempo.
Ensaio historiográfico sobre a abolição do tráfico de escravos [download]
Por Ana Paula Tavares – um dos momentos mais decisivos da história brasileira do século XIX é tema do ensaio de Beatriz Gallotti Mamigonian. A publicação analisa o processo que levou à abolição do tráfico de escravizados em 1850 e destaca o papel da imprensa abolicionista. Lançado como e-book pela Companhia das Letras, o ensaio reproduz na íntegra o sexto capítulo do livro Africanos livres: a abolição do tráfico de escravos no Brasil, publicado originalmente em 2017. Nele, a historiadora Beatriz G. Mamigonian oferece uma investigação minuciosa sobre os bastidores políticos, diplomáticos e sociais que antecederam a promulgação da Lei Eusébio de Queirós, em 1850, contextualizando-a como um desdobramento complexo — e não como um gesto isolado do Estado imperial brasileiro. Leia a matéria completa. Fonte: Bonecas Russas.
A evolução do consenso científico sobre raça no século 20
Segundo Adam Rutherford, geneticista e divulgador científico britânico, “Quando os cientistas revelaram o primeiro rascunho do Projeto Genoma Humano, há 25 anos, ele parecia dar a palavra final em relação a alguns mitos ultrapassados sobre raça. O projeto forneceu evidências definitivas de que os grupos raciais não têm base biológica. Na verdade, há mais variação genética dentro dos grupos raciais do que entre eles. A raça, como a iniciativa mostrou, é uma construção social. Apesar desta descoberta fundamental, que só foi reforçada com o avanço da pesquisa sobre genomas humanos, a raça e a etnia ainda são usadas com frequência para categorizar as populações humanas como grupos biológicos distintos”. Na recente enxurrada de ordens executivas do presidente dos EUA, Donald Trump, uma delas condena uma exposição atual no Smithsonian American Art Museum intitulada “The Shape of Power: Stories of Race and American Sculpture” como exemplo. O decreto presidencial contesta a exposição porque ela “promove a visão de que a raça não é uma realidade biológica, mas uma construção social, afirmando que ‘a raça é uma invenção humana’. A exposição exibe mais de dois séculos de esculturas que mostram como a arte produziu e reproduziu atitudes e ideologias raciais. Leia na íntegra o artigo de John P. Jackson Jr. Fonte: The Conversation.
Andrée Blouin foi a articuladora política esquecida da África
Por Ernest Harsch | Tradução Pedro Silva – Resenha do livro My Country, Africa: Autobiography of the Black Pasionaria [Meu País, África: Autobiografia da Pasionaria Negra], de Andrée Blouin (Verso Books, 2025). As memórias da revolucionária centro-africana Andrée Blouin contam a história de uma mulher que testemunhou em primeira mão os eufóricos altos e os trágicos baixos da luta pela independência na África. Andrée Blouin foi uma das aliadas mais próximas de Patrice Lumumba, o carismático político congolês que liderou seu país na luta por independência antes de seu assassinato em 1961. Críticos estadunidenses e belgas do líder assassinado frequentemente desprezavam Blouin. Para eles, ela era uma “fanática”, possivelmente uma agente comunista, certamente uma forte opositora ao poder ocidental. Quase quarenta anos após sua morte em 1986, aos 64 anos, Andrée caiu um pouco no esquecimento. A recente reedição de sua autobiografia, My Country, Africa: Autobiography of the Black Pasionaria, há muito tempo fora de catálogo, comprova como sua importância é duradoura. Ela ressurge em um momento de renovado interesse pela política da África Central. O premiado documentário de 2024 de Johan Grimonprez sobre a relação desconfortável do jazz estadunidense com o império, Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado, a cita extensivamente. Essa atenção renovada já era necessária. Sua história de vida é um relato notável de luta pessoal e política de uma pessoa verdadeiramente extraordinária. Leia a resenha na íntegra. Fonte: Jacobin Brasil.
Aquele que não podia ser contrariado: um perfil de Kwame Nkrumah
Por Vijay Prashad – A trajetória de Kwame Nkrumah, de jovem estudante nos Estados Unidos a líder revolucionário e presidente de Gana. Em 1935, Kwame Nkrumah (1909-1972) chegou a Londres para obter seu visto para estudar nos Estados Unidos. Nas ruas da capital do Império Britânico, Nkrumah ouviu um vendedor de jornais gritar, animado, algo ininteligível. Ele olhou para a banca de jornais e viu um cartaz que dizia: “Mussolini invade a Etiópia”. A Etiópia era um dos poucos países no continente africano que não haviam sido colonizados pelo Ocidente. Nkrumah, que nasceu na vila costeira de Nkroful, na Costa do Ouro, realizou seus estudos na Escola Achimota, mas se influenciou principalmente pelo contato com o Congresso Nacional da África Ocidental Britânica (fundado em 1917), reagiu intensamente à notícia. Em sua autobiografia, escrita em 1956, Nkrumah lembrou sua reação: “Naquele momento, foi quase como se toda Londres tivesse, de repente, declarado guerra contra a minha pessoa. Nos minutos seguintes, eu não conseguia fazer nada além de olhar fixamente para cada rosto impassível, perguntando-me se aquelas pessoas eram capazes de perceber a maldade do colonialismo, e rezando para que chegasse o dia em que eu pudesse desempenhar meu papel na queda de tal sistema. Meu nacionalismo veio à tona; eu estava pronto e disposto a ir até o inferno, se necessário, para alcançar meu objetivo.” Nkrumah, em seus 20 e poucos anos, fervendo de raiva e determinação, já se definia como um inimigo do colonialismo. Ele tinha certeza da importância do nacionalismo anticolonial não apenas para sua terra natal, mas para toda a África e, de fato, para o mundo colonizado. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Ópera Mundi.
Frei Betto: Estados Unidos e o perfil religioso da América Latina
Por Frei Betto – América Latina passou por profundas transformações religiosas ao longo das últimas décadas do século XX. Um dos fenômenos mais notáveis foi o crescimento expressivo das Igrejas evangélicas, especialmente as de orientação pentecostal e neopentecostal. Há influências externas, políticas e estratégicas, que desempenharam papel crucial. Nesse contexto, destacam-se os Documentos Santa Fé I (1980) e Santa Fé II (1988), produzidos por setores conservadores da política e dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, com o objetivo de orientar a política externa do país frente à América Latina durante a Guerra Fria. Por meio desses documentos os EUA delinearam estratégia para combater a Teologia da Libertação na América Latina e avançar as igrejas evangélicas na região. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Revista ópera.
EXPEDIENTE
MÍDIA NEGRA E FEMINISTA
Boletim Eletrônico Nacional
Periodicidade: Mensal
EDITOR
Valdisio Fernandes
EQUIPE
Allan Oliveira, Ana Santos, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Davino Nascimento, Denilson Oliveira, Enoque Matos, Flávio Passos, Glauber Santos, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Jeane Andrade, Josy Andrade, Josy Azeviche, Leila Xavier, Luan Thambo, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Patricia Jesus, Ronaldo Oliveira, Roselir Baptista, Silvanei Oliveira, Tamiris Rizzo.