O estudo, intitulado “Contratos, Códigos e Controle: A Influência das Big Techs no Estado Brasileiro”, foi realizado por pesquisadores da USP e da Universidade de Brasília. Ele analisa a influência das grandes empresas de tecnologia (big techs) no setor público brasileiro, revelando que o governo brasileiro gasta grandes quantias com produtos e serviços estrangeiros, enquanto universidades e centros de pesquisa enfrentam dificuldades financeiras. O estudo aponta que essa escolha representa uma inversão de prioridades, com o governo priorizando a inovação estrangeira em detrimento do desenvolvimento tecnológico nacional.
Ergon Cugler, coordenador do estudo e pesquisador da FGV, critica a decisão do governo, afirmando que o dinheiro público está sendo usado para financiar a inovação em outros países, em vez de ser investido em inovação nacional. Ele defende que o fortalecimento da capacidade científica nacional, a geração de empregos qualificados e o desenvolvimento de soluções tecnológicas próprias são prejudicados por essa política.
A pesquisa também levanta preocupações sobre a dependência tecnológica do Brasil em relação a grandes empresas estrangeiras, com potenciais impactos negativos na soberania tecnológica do país.
*Texto dos pesquisadores para o Jornal da USP
Ergon Cugler – Foto: Reprodução/X
O setor público brasileiro contratou pelo menos R$ 23 bilhões em TIC entre 2014 e 2025, sem contar sobreposições nem dados não padronizados, sendo R$ 10,35 bilhões apenas no último ano. A análise das bases ComprasNet e Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) permitiu estimar esse valor piso, revelando a dimensão dos investimentos em tecnologia estrangeira, ainda que o número real possa ser significativamente maior devido à fragmentação das bases da União e inconsistência dos dados. O trabalho mostra que com a quantia já destinada à aquisição de tecnologia estrangeira, nos últimos dez anos, seria possível construir e inaugurar pelo menos 86 data centers de alto padrão no Brasil.
Governo Lula institui nova Estratégia Nacional de Cibersegurança
Nova E-Ciber determina revisão de Plano Nacional de Cibersegurança, reforça poder das agências para regular assunto em suas áreas, e prevê estímulos ao desenvolvimento do setor no país.
O governo federal publicou no dia 5 de agosto de 2025, o Decreto nº 12.573/2025, que institui a nova Estratégia Nacional de Cibersegurança (E-Ciber). A medida substitui a E-Ciber de 2020 e estabelece diretrizes para políticas públicas voltadas à proteção de ciberativos, prevenção de incidentes e fortalecimento da resiliência de serviços essenciais e infraestruturas críticas, como os sistemas de telecomunicações.
A nova E-Ciber está organizada em quatro eixos temáticos: (1) proteção e conscientização do cidadão e da sociedade; (2) segurança e resiliência de serviços essenciais e infraestruturas críticas; (3) cooperação e integração entre entes públicos e privados; e (4) soberania nacional e governança.
COMITÊ — A implementação das ações será detalhada no Plano Nacional de Cibersegurança, a ser proposto pelo Comitê Nacional de Cibersegurança (CNCiber), criado em dezembro de 2023 e presidido pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, com participação de órgãos públicos e representantes da sociedade.
O CNCiber integra 25 instituições, das quais 16 são ligadas ao governo e 9 representam a sociedade (sendo 3 entidades relacionadas a direitos digitais, 3 de ciência e tecnologia, e 3 empresariais). De acordo com o decreto da E-Ciber, as cerca de 40 ações estratégicas previstas serão desdobradas em iniciativas estratégicas descritas em Planos Nacionais de Cibersegurança, atualizados periodicamente pelo comitê.
A medida representa um avanço significativo na cibersegurança e na resiliência de serviços essenciais e de infraestruturas críticas, e um passo importante para a soberania digital do país.
Regulação de riscos e selo de segurança
O texto estabelece diretrizes como o estímulo à adoção de padrões mínimos de segurança para dados sensíveis, criação de um selo nacional de certificação de ciberativos com alto nível de segurança e incentivo à contratação de seguros contra ciberincidentes por operadores de infraestruturas críticas.
O texto coloca o tema como central para as agências reguladoras. Prevê o desenvolvimento de mecanismos regulatórios e de fiscalização para aprimorar a segurança e continuidade dos serviços essenciais, incluindo telecomunicações, com estímulo à realização de exercícios e simulações multissetoriais e à interoperabilidade segura de dados e canais digitais. Diz ainda que os normativos na área deverão ser aprimorados de forma contínua.
No eixo de cooperação, a estratégia incentiva a criação de equipes de prevenção e resposta a incidentes de cibersegurança, centros de compartilhamento de informações e laboratórios especializados. Também propõe a implementação de um mecanismo nacional de notificação de ciberincidentes e a participação ativa do Brasil em fóruns internacionais sobre o tema.
Soberania
No campo da soberania digital, a E-Ciber orienta a atualização da Política Nacional de Cibersegurança, estabelece a criação de um modelo nacional de maturidade em cibersegurança para medir a evolução do setor e orientar planos futuros. Incentiva, ainda, o desenvolvimento de produtos e serviços nacionais voltados à segurança digital, com foco em micro e pequenas empresas.
Outro ponto de destaque é a promoção da capacitação técnica e da formação de especialistas no tema, incluindo apoio à pesquisa acadêmica e ampliação das residências tecnológicas em parceria com institutos de ciência e tecnologia.
Plano Nacional de Cibersegurança
O Plano Nacional de Cibersegurança será o principal instrumento de execução da estratégia e deverá detalhar as iniciativas estratégicas, o cronograma e a governança das ações. A publicação do plano dependerá da anuência dos 15 órgãos públicos que integram o Comitê Nacional de Cibersegurança, conforme previsto no Decreto nº 11.856/2023.
A nova E-Ciber reforça a atuação multissetorial como base para mitigar riscos cibernéticos que afetam tanto a segurança pública quanto o funcionamento de serviços essenciais, como energia, telecomunicações, finanças, transporte e saúde. O decreto já está em vigor.