Autoria: Tanira Fontoura, Tiago Coutinho, José Ricardo Lemos e Rubens Caldas | Capa, Ilustrações e Diagramação: Breno Loeser | Consultoria Religiosa: Iyá Kekeré Ângela Ferreira e Iyá Dagan Neli Cristina Oliveira | Consultoria Linguística: Prof. Adinelson Akambi Odé | Editora: Tecnomuseu.

Em formato de livro ilustrado, intitulado “Awon Ona Jagun – Narrativas de Mãe Carmen de Osaguian”, pela Editora Tecnomuseu, integrando a Coleção Ancestralidade, Sabedoria e Trajetória, o lançamento acontece no dia 29 de maio, a partir das 18:30h, na Câmara Municipal de Salvador, juntamente com a entrega da Comenda Maria Quitéria à Iyalorixá, por iniciativa da vereadora Marta Rodrigues.

O trabalho contou com a produção artística do designer Breno Loeder e consultoria linguística em iorubá do Prof. Adinelson Akambi Odé e traz algumas histórias da vida de Mãe Carmen, desde o seu nascimento e percurso dentro do contexto das responsabilidades religiosas nos ritos do axé do Gantois, servindo de natural ensinamento dentro da comunidade-terreiro, em palavras que trazem emoção, encantamento e responsabilidade no desafio de “documentar” pilares e valores, e assegurar que os preceitos de matriz africana adentrem o futuro.

A oralidade é o fundamento básico no candomblé, é veículo de transmissão de hábitos, informações e sistemas. Do mesmo modo como aprendeu na convivência em grupo, Mãe Carmen repassa aos iniciados lições e testemunhos de vida que servem de exemplo. E é essa trajetória, a partir de iniciativa dos filhos do Gantois, que passa a ser registrada em linhas poéticas, comemorando seus 21 anos como Iyalorixá do Gantois.

 

História do Gantois 

No Gantois, com tradições da etnia egbá-alakê, Maria Júlia fundou a comunidade-terreiro em 1849, deixando um legado de formação jeje-nagô, repassado a Iyá Pulchéria e Mãe Menininha no século XX e, desde 2002, Mãe Carmen segue o caminho determinado de manter os costumes.

Seja através de contos, cânticos, provérbios ou fatos, os mais velhos “recontavam” vidas e memórias; eles sempre foram as “bibliotecas” do saber coletivo. Por gerações, dentro da perspectiva hereditária, atendendo à organização de linhagem consanguínea e sentido de identidade, o Gantois manteve esse ritmo sequencial histórico, chegando a Mãe Carmen, na contemporaneidade, ainda com a preservação de conhecimento litúrgico de seus antepassados.

 

Sobre Mãe Carmen do Gantois 

Carmen Oliveira da Silva, funcionária aposentada do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, seguiu por alguns anos em sua carreira de contadora, mas o seu destino já havia sido traçado pelos orixás, e foi convocada para assumir o trono do Gantois. Filha caçula de Mãe Menininha, Mãe Carmen de Oxaguian foi iniciada aos 7 anos de idade, nasceu e cresceu dentro da Casa do Candomblé, e viveu grande parte de sua vida como Iyalaxé do Gantois. É mãe de 2 filhas, Ângela Ferreira (Iyakekerê) e Neli Cristina (Iyadagan); tem 3 netos, sendo todos iniciados no candomblé, e quatro bisnetos (Letícia, Sophia, Théo e Pedro). Desde 2002, está no comando do Candomblé do Ilé Iyá Omi Asé Iyamasé – Terreiro do Gantois, na cidade de Salvador, Bahia, Brasil, quando assumiu o posto de Iyalorixá.

Ao longo dessa trajetória, desempenha um papel fundamental na preservação das tradições de sua família, que possui ancestralidade africana, dando seguimento com muito respeito, amor e firmeza à missão que os Orixás designaram.

Recebeu a Medalha 02 de Julho, pela Prefeitura Municipal de Salvador, entregue a personalidades baianas de destaque. E, pelo Governo do Estado, possui o título de Grã-Mestre Comendadora. Em virtude de todo o trabalho que tem desenvolvido para preservação das tradições numa perspectiva de diálogo inter-religioso, Mãe Carmen foi agraciada com a “Medalha dos 5 Continentes ou da Diversidade Cultural”, comenda entregue pela Unesco, através Presidente do Conselho Executivo da Unesco e Delegado Permanente do Benin, Embaixador Olabiyi Babalola Joseph Yai, em maio de 2010. Além da comenda, Mãe Carmen recebeu do Embaixador as faixas da Sociedade Secreta Gueledés, por ser uma liderança que salvaguarda a ancestralidade de matriz africana em sua comunidade.

Participou da coletânea de textos para o livro “Recomeços”, da jornalista e escritora Lina de Albuquerque, pela Saraiva Editora, com um depoimento de vida, relatando a trajetória determinada pela ancestralidade.

Além da parte religiosa, Mãe Carmen também promove ações sócio-educativas junto à comunidade do Gantois, realizando, juntamente com a Associação de São Jorge Ebé Oxossi, benfeitorias para o bairro. Na parte cultural, empreendeu ações voltadas para acessibilidade à memória da religiosidade de matriz africana na Bahia, com cursos de ritmos e toques, dança, bordados tradicionais, dentre outros, intercâmbio com instituições culturais do Brasil e do exterior, principalmente África, Cuba, França e Estados Unidos, que possuem eixos de trabalho e pesquisa voltados para a problemática social do negro. Com o tombamento do Gantois, em 2002, também voltou-se para os cuidados com a questão patrimonial material e imaterial existente no Memorial Mãe Menininha, cujo resultado pode ser conferido com a obra “Memorial Mãe Menininha do Gantois – Seleta do Acervo”, da qual é autora e que foi lançada em julho de 2010.

Escreveu, em 2017, a apresentação do livro do antropólogo Raul Lody “Moda e História – As Indumentárias das Mulheres de Fé”, pela Editora Senac de São Paulo, obra lançada no Gantois.

Ainda no campo artístico, Mãe Carmen foi homenageada com a composição da música “A Força do Gantois”, composta pelo sambista Nelson Rufino, lançada em agosto de 2011. Em março de 2019 retornou ao cargo de Presidente da Associação de São Jorge Ebé Oxossi, entidade mantenedora da Casa do Gantois, tendo sido eleita pelos associados integrantes e pela comunidade-terreiro.

Ainda em relação a comendas outorgadas à liderança religiosa, o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, em 28 de junho, entregou a Medalha e o Diploma comemorativos aos 410 anos do Tribunal a Mãe Carmen, seguido de ato reparatório com pedido formal de perdão, em nome do Judiciário, por situações de intolerâncias religiosas ocorridas em séculos passados.

O Álbum “Obatalá, lançado em setembro de 2019, projeto idealizado a partir do trabalho de musicalidade existente no Gantois e com participação de artistas de renome nacional representou uma homenagem por seu desempenho e trabalho na preservação da língua iorubá nos cânticos litúrgicos do candomblé.

 

Fonte: A Tarde.

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