Por Bruno Leal

Esgotado, livro clássico sobre a situação dos negros após a Abolição ganha versão digital gratuita.

“Negros e brancos em São Paulo, 1888-1988”, do historiador norte-americano George Reid Andrews, foi lançado pela primeira vez em português em 1998. Esgotado há alguns anos, o livro está agora disponível gratuitamente em formato digital.

“Negros e brancos em São Paulo, 1888-1988” é fruto de uma longa e sofisticada pesquisa desenvolvida pelo historiador norte-americano George Reid Andrews, professor do Departamento de História da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. No livro, Andrews examina as dificuldades enfrentadas pelos negros brasileiros no período posterior à Abolição, colocando em xeque a imagem do país como uma “democracia racial”.

Por meio da crítica documental e fazendo uma revisão da literatura especializada, o historiador mostra que embora não houvesse leis de segregação racial no Brasil, como aconteceu nos Estados Unidos, o sistema econômico e político do país produziu uma discriminação generalizada contra os afro-brasileiros, o que os afetou direta e persistentemente. Ele estuda ainda políticas públicas, que privilegiaram trabalhadores europeus, e também ações de alguns dos principais movimentos negros brasileiros do século XX.

Na introdução do livro, Maria Lígia Coelho Prado sintetiza o valor da obra:

“O autor mistura otimismo e pessimismo em sua análise sobre essas organizações. De um lado, crê que os movimentos negros obrigaram a sociedade brasileira a se colocar frente à realidade da inexistência de uma democracia racial no país, fazendo com que florescesse uma reflexão crítica sobre essa questão. Por outro lado, entende que o caminho para uma verdadeira democracia racial é longo e difícil, pois tem que ser cumprido sem muitos recursos num ambiente político que historicamente tem demonstrado resistência à mudança e a inovação”.

O Café História conversou recentemente, por e-mail, com Andrews, que completou 70 anos no último mês de abril. Ao ser perguntado qual seria, na sua opinião, a principal contribuição de seu trabalho de 1998 para a historiografia da pós-abolição, ele respondeu:

“Boa pergunta! Acho que a contribuição mais importante do livro foi a proposta de adotar uma perspectiva de longo prazo, de 100 anos, para estudar a evolução da desigualdade racial em São Paulo, e os movimentos sociais que tentaram combater essa desigualdade. O livro tentou ligar os estudos históricos da escravidão e da abolição (século XIX) com os estudos mais sociológicos da situação racial dos meados e o fim do século XX. O objetivo foi o de mostrar a longa trajetória das reivindicações negras em São Paulo, começando com os movimentos antiescravistas, passando pelos clubes sociais das primeiras décadas do século XX e a Frente Negra Brasileira dos anos 30, até chegar aos movimentos negros que surgiram nas décadas dos 70 e 80. O livro termina no centenário da abolição, em 1988, e os debates lançados naquele momento”.

Brasilianista

George Reid Andrews é o que alguns historiadores brasileiros chamam de “brasilianistas”, isto é, pesquisadores estrangeiros que estudam temas brasileiros. Brasilianistas como Warren Dean, Joseph Love, Thomas Skidmore, Jeffrey Lesser e Armelle Enders, apenas para citar alguns exemplos, deram grandes contribuições para o entendimento da história brasileira.

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George Reid Andrews, autor de “Negros e brancos em São Paulo, 1888-1988”.Foto: divulgação da Universidad de Pittsburgh.

O livro de Andrews foi publicado pela primeira vez em inglês, em 1991, com o título Black and whites in São Paulo, Brazil, 1888-1988. A tradução para o português foi feita em 1998, quando a obra foi publicada pela EDUSC, editora Universidade do Sagrado Coração, de Bauru. Depois de alguns anos esgotado, o livro pode ser agora baixado gratuita e legalmente, em formato PDF, aqui.

 

Bruno Leal

Fundador e editor do Café História. É professor adjunto de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História Social. Tem pós-doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa História Pública, História Digital e Divulgação Científica. Também desenvolve pesquisas sobre crimes nazistas e justiça no pós-guerra.

 

Fonte: Café História.

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