Por André Zanardo

Vivemos dias atribulados, com o senso de realidade prejudicado, tocando o absurdo para não dizer mergulhado na loucura, à cada notícia do nosso cotidiano. No Brasil, como podemos superar a sensação de que toda sorte de sandices já foi vista, e que o sistema jurídico-político se tornou absolutamente instável? Não é de hoje que lidamos com o enfraquecimento das regras do jogo democrático. Nesta semana, no Brasil, como forma de corrigir os erros provocados pelo “lavajatismo”, o STF iniciou seu processo de correção interna por meio de uma importante decisão. A discussão central deste julgamento foi a garantia do princípio básico da ampla defesa. Com essa nova decisão do STF, ações que não seguiram esse princípio devem ter suas condenações revistas. Acertou a Suprema Corte, apesar de tardiamente, com sua credibilidade questionada, sob o risco de serem destituídos por uma massa populista fascista que ajudaram a fomentar irresponsavelmente. Agora, pós-golpe, pós heroísmo barato, amargam todos para resgatar a confiança das instituições. Preocupado com o futuro incerto, a Corte corre atrás de rever suas decisões para garantir o mínimo de coerência no sistema jurídico-político. Longe de acordarmos desta distopia, se agravam as estratégias dos agentes políticos institucionais que querem “bacuralizar” o sistema. Instituições irresponsáveis – como o Ministério Público – que inflamaram o sentimento proto-fascista. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Justificando.

O que é necropolítica. E como se aplica à segurança pública no Brasil

A pesquisadora Rosane Borges explica como o conceito de necropolítica se relaciona com racismo, a ideia da eliminação de um inimigo e as favelas. Necropolítica é um conceito desenvolvido pelo filósofo negro, historiador, teórico político e professor universitário camaronense Achille Mbembe que, em 2003, escreveu um ensaio questionando os limites da soberania quando o Estado escolhe quem deve viver e quem deve morrer. O ensaio virou livro e chegou ao Brasil em 2018, publicado pela editora N-1. Para Mbembe, quando se nega a humanidade do outro qualquer violência torna-se possível, de agressões até morte. “A gente vê hoje um Estado que adota a política da morte, o uso ilegítimo da força, o extermínio, a política de inimizade. Que faz a divisão entre amigo e inimigo. É o que a gente vê, por exemplo, nas favelas, nas periferias das grandes cidades brasileiras, nos rincões do país. Nossa polícia substitui o capitão do mato”, analisa Rosane Borges, jornalista, professora e pesquisadora do Colabor (Centro Multidisciplinar de Pesquisas em Criações Colaborativas e Linguagens Digitais) da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), em entrevista à Ponte. Leia a entrevista na íntegra. Fonte: Ponte Jornalismo.

“Negros” enquanto categoria: fragmentações no horizonte

Por Tago Elewa Dahoma (Thiago Soares) – As tensões sobre raça no brasil estão mais intensas do que nunca e parece que temos mais dúvidas do que certezas: “‘Você é negro? Você é visto como negro?’ Uma pergunta que alguns poucos anos poderia ser seguida de respostas simples, dadas com convicção, hoje necessita de mais ponderações. O padrão tão duramente batalhado pelo movimento negro desde os anos 1970, com impactos profundos nos recenseamentos, instituições e na auto-percepção das pessoas negras (mestiças e pretas) parece ter chegado ao seu fim. Pelo menos no campo das mídias sociais, mas com efeitos massivos nas relações cotidianas. Este fenômeno é uma descontinuidade das lutas travadas pelos movimentos negros organizados, que pensaram a categoria “negro” como uma junção de pretos e “pardos”, sendo uma resposta aos diversos tipos de denominações para as cores não-brancas nos censos. Uma miríade com mais de 100 tipos de cores. É nítido que essa aglutinação foi um avanço, mas que está caindo por terra pois a ideia da categoria racial como formulada pelos nossos mais velhos, não se encaixa numa configuração no qual o entendimento sobre o que faz uma pessoa ser negra está cada vez mais perdendo sua referência preta (e ao que os pretos passam socialmente) para elementos característicos que podem ser enxergados em pessoas brancas. Os julgamentos pululam, assim como a percepção subjetiva sobre a cor, por critérios pessoais. Essa dissociação dos pertencimentos raciais provocada por esta distorção pode levar a um tipo de separação política que não será benéfica às pessoas negras no país. Uma nova discussão precisa ser travada, pois o vácuo em uma identificação mais segura e esta fluidez racial tem condicionantes implosivas para o nosso próprio entendimento do que nós somos no Brasil. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Papiro Indomito.

“Enegrecendo o feminismo”: a opção descolonial e a interseccionalidade traçando outros horizontes teóricos

Por Natércia Bambirra – Os feminismos negros vêm prestando um grande serviço às epistemologias feministas e aos estudos sobre racismo. Ao tensionarem a omissão do feminismo branco em relação às pautas antirracistas, as mulheres negras expuseram a fragilidade das tendências universalistas. O convite aqui posto, inspirado numa revisão preliminar da literatura, é à imersão nas pautas, protagonismos e produção de conhecimento da e sobre as mulheres negras, a partir do lugar de fala da mulher negra. A perspectiva descolonial é utilizada nesse artigo como caminho teórico que evidencia a urgência em visibilizar e garantir o direito a voz às mulheres negras, sem desconsiderar o recorte de classes, o objetivo consiste na valorização de narrativas e subjetividades ainda subalternizadas. Nesse sentido, concluímos que a opção descolonial, racializada e generificada, oferece mais fundamentos para a análise das estruturas sociais a partir e por aqueles/as que lutam pelo direito a voz, escuta e visibilidade. Para Sandra Harding, “temos que reconhecer que nas culturas estratificadas tanto pelo gênero, quanto pela raça, o gênero sempre constitui uma categoria racial, e a raça uma categoria de gênero”. Dessa forma, “as políticas públicas sexistas são diferentes para as pessoas do mesmo gênero, mas de diferente raça, e as políticas racistas são distintas para as mulheres e homens da mesma raça”. A leitura articulada de diferentes categorias/marcadores sociais vem para ampliar o alcance do entendimento acerca das opressões e discriminações, bem como as distintas formas como os sujeitos são afetados. Kimberle Crenshaw reuniu essa ideia sob o termo interseccionalidade. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Revista Ártemis, vol. XXVII nº 1, jan-jun, 2019, UFPB.

Interseccionalidade desfeita: salvando a interseccionalidade dos estudos feministas sobre interseccionalidade

Sirma Bilge | Tradução de Flávia Costa Cohim Silva – Revisão de Viviane Vergueiro – Este artigo identifica um conjunto de relações de poder dentro dos debates acadêmicos feministas contemporâneos sobre a interseccionalidade que trabalham para “despolitizar a interseccionalidade”, neutralizando o potencial crítico da interseccionalidade para uma mudança orientada à justiça social. Num momento em que a interseccionalidade recebeu aclamação internacional sem precedentes nos círculos acadêmicos feministas, um feminismo acadêmico especificamente disciplinar, em sintonia com a economia do conhecimento neoliberal, se envolve com práticas argumentativas que a reenquadram e minam. Este artigo analisa várias tendências específicas de debate que neutralizam o potencial político da interseccionalidade, como o confinamento da interseccionalidade a um exercício acadêmico de contemplação metateórica, bem como um “branqueamento da interseccionalidade” através de afirmações de que a interseccionalidade é “a invenção do feminismo”, e requer uma “genealogia mais ampla da interseccionalidade” reformulada. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Revista Feminismos, v. 6, n. 3, NEIN, FFCH / UFBA.

Dossiê “Trabalho doméstico: sujeitos, experiências e lutas”, Flavia Fernandes de Souza e Maciel Henrique Silva (Orgs.)

Um dos aspectos mais evidentes do processo de renovação na História do Trabalho é a mudança de perspectiva em relação ao seu objeto, que, inequivocamente, deixou de ser a história do operariado fabril (branco, masculino, imigrante, urbano e organizado). Conforme apontaram Alexandre Fortes e John French, “a exploração da complexidade da formação da classe, com atenção para a diversidade de culturas e identidades entre os trabalhadores” e “a redefinição do campo através de um esforço consciente para incluir aqueles que estão fora do mundo urbano-industrial”, implicou em “um recuo no tempo para incluir o trabalho escravo e outras formas não assalariadas de trabalho”. Em um esforço inicial de levantamento historiográico realizado há alguns anos, foi possível veriicar como a história do trabalho doméstico eclodiu como um tema de interesse e de pesquisas nos primeiros anos do século XXI.8 Sendo este um fenômeno digno de nota, tendo em vista que, até então, a história das(os) trabalhadoras(es) domésticas(os) havia sido pouco estudada pelos historiadores brasileiros. Leia a publicação na íntegra. Isabel Cristina Reis | Fonte: Revista Mundos do Trabalho, vol. 10, n. 20, 2018/2, GT “Mundos do Trabalho”, ANPUH.

Bairros negros, cidades negras: Henrique Cunha Junior e Estanislau Ferreira Bié (Orgs.)

O Brasil foi colonizado por povos africanos que trouxeram para cá todo o acervo de conhecimentos e as tecnologias que permitiram o desenvolvimento da economia tropical. Os africanos formaram e formalizaram as bases mais amplas da cultura nacional, tanto é que o brasileiro para se afirmar como tal precisa recorrer a uma africanidade brasileira. Processo diferente foi o impetrado pelos europeus portugueses que estabeleceu uma dualidade nos confrontos e nas contradições em que o poder e a dominação foram duramente exercidos por portugueses sendo que às bases da produção e da realização da base cultural pelos povos africanos. Na mesma seara do contraditório, está a formação social brasileira. É a contradição social entre africanos e europeus que forma o Brasil. Africanos exerceram os trabalhos e criaram a cultura e os europeus executaram desumano processo de dominação e acumularam os benefícios da produção. Na série das incoerências estratégicas para manter as lacunas da teoria social brasileira, ainda está por ser elaborada ampla teoria social que permita uma completa interpretação desse processo de colonização e de dominação do escravismo criminoso. Leia a publicação na íntegra. Fonte: Série Conhecimento Africano e Afro-brasileiro, Editora Via Dourada, Fortaleza, Ceará 2019.

Garimpo, destruição, estupidez política, ganância e luta. Muita Luta!

Legalizar o garimpo em terras indígenas pode destruir povos, culturas, etnias, crianças, mulheres, homens, enfim gente – além do ecossistema em geral. O governo trabalha em um projeto de lei para autorizar mineração em terras indígenas – e como era de se esperar, ele tem pontos um tanto complicados. Primeiro ponto: os indígenas deverão ser consultados sobre projetos de mineração em suas terras, mas não terão poder de veto. Segundo: o projeto prevê a criação de um conselho para decidir sobre pagamentos e indenizações a cargo dos empresários. Só que esse conselho será formado por nove representantes apontados pela Funai, hoje presidida por um delegado da Polícia Federal próximo do agronegócio. A lista de problemas ainda inclui a falta de uma política adequada para lidar com povos isolados. O Conselho Indígena Missionário (Cimi) divulgou recentemente o relatório Violência Contra Povos Indígenas do Brasil, analisando o aumento de invasão de territórios indígenas e a violência contra seus povos. Leia a matéria completa. Rosane Cordeiro | Fonte: Mira – Movimento Internacional de Responsabilidade e Ação.

“A desigualdade é ideológica e política”: o novo livro de Thomas Piketty

Após O Capital no Século XXI, publicado em 2013 e que vendeu 2,5 milhões de exemplares em todo o mundo, Thomas Piketty, diretor de estudos da École des Hautes Études en Sciences Sociales e professor da École d’Économie de Paris, além de cronista no Le Monde, publica, Capital et Idéologie (Seuil), um livro de investigação sobre a formação e a justificativa das desigualdade de mais de 1.200 páginas. As desigualdades crescentes de renda e patrimônio, que Piketty dissecou em uma obra anterior, o sucesso de vendas O Capital no Século XXI, são produto de uma ideologia. Cada momento tem suas justificativa, um argumento que o sustenta, e transformar o mundo obriga a mudar de ideias. “Dar um sentido às desigualdades, e justificar a posição dos vencedores, é uma questão de vital importância. A desigualdade é acima de tudo ideológica”, escreve o economista francês. “Capitalismo e Ideologia” será lançado no Brasil pela Intrínseca, em março de 2020. Leia a matéria completa. Fonte: El Pais.

O que significa Assata Shakur para Angela Davis

“Na década de 70, enquanto Assata Shakur esperava julgamento por ser cúmplice em um assassinato, eu participei de um evento beneficente na Universidade Rutgers em New Brunswick, Nova Jérsei, para levantar fundos para sua defesa. Na época, Assata estava presa na Unidade Correcional para Homens de Middlesex . Lennox Hinds, professor da universidade, havia me convidado para ser uma das palestrantes no evento. Lennox era um líder da Conferência Nacional de Advogados Negros e representava Assata em um processo federal contestando as condições aterrorizantes do seu confinamento na prisão de Nova Jérsei. Ele havia trabalhado anteriormente no meu caso e nós dois havíamos sido líderes da Aliança Nacional contra a Repressão Racista e Política desde sua fundação em 1973. No evento beneficente havia funcionários da faculdade, um considerável número de profissionais negros e ativistas locais que eram o suporte principal de diversas campanhas para libertação de presos políticos da época. Foi um evento alegre, cheio do otimismo típico da época. Minha própria recente absolvição das acusações de assassinato, sequestro e conspiração serviram como exemplos dramáticos de como nós podíamos desafiar as ofensivas do governo contra movimentos antirracistas radicais com sucesso. Não importa quão poderosas as forças estavam contra Assata – o programa de contrainteligência do FBI5 e as instituições policiais de Nova Jérsei e Nova Iorque – ninguém conseguia nos convencer na época que não éramos capazes de construir um movimento bem sucedido pela liberdade de Assata. Leia a matéria completa. Fonte: Traduagindo.

Notícias do evangelho: como os sites evangélicos moldam a visão de milhões de brasileiros

Por Helton Levy – Inicialmente, conduzi uma pesquisa sobre esses sites de notícias do evangelho em 2008, quando percebi que eles estavam crescendo em popularidade e sofisticação. Uma década depois, em 2018, alguns deles afirmaram ter até 20 milhões de visitantes por ano. À medida que o Brasil se torna mais conservador – uma pesquisa de 2016 revelou que 54% dos brasileiros relatam ter um alto número de opiniões tradicionalmente conservadoras, 5% a mais que em 2010 – isso parece aumentar ainda mais. O problema das notícias do evangelho não é a falta de base factual nas histórias, mas a priorização dogmática de certos fatos e a maneira como isso pode afetar comunidades frágeis e a trajetória da política do país. Entender o crescimento e a trajetória deles é importante porque as visões evangélicas podem afetar as opiniões e o comportamento de milhões. Eles também podem influenciar decisões políticas, dos direitos humanos às mudanças climáticas. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Marxistas Brasil.

 

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MÍDIA NEGRA E FEMINISTA

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Periodicidade: Mensal

EDITOR

Valdisio Fernandes

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Aderaldo Gil, Allan Oliveira, Aline Alsan, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Enoque Matos, Eva Bahia, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Kenia Bandeira, Keu Sousa, Josy Andrade, Josy Azeviche, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Felipe de Carvalho, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Ricardo Oliveira, Ronaldo Oliveira, Silvanei Oliveira.

Colaboradores: Jonaire Mendonça e Erica Larusa

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