Cinco influenciadores e ativistas do movimento negro lançaram nesta semana um vídeo-manifesto para denunciar o racismo e cobrar ação da sociedade brasileira na luta pela justiça racial. O filme, que tem pouco mais de 2 minutos, faz parte de uma campanha antirracista realizada pela plataforma de petições online Change.org. 

No manifesto, os militantes negros recorrem à contextualização histórica para mostrar como a atual realidade brasileira, na qual as desigualdades e os privilégios têm cor, é resultado de uma estrutura formada ao longo de séculos de marginalização do povo preto. Dados sobre a condição da negritude no Brasil são escancarados pelos ativistas a fim de provocar debate.

Participam da peça a rapper e historiadora Preta Rara, o educador e fundador da Uneafro Brasil Douglas Belchior, a militante do movimento por moradia Preta Ferreira, a transfeminista e educadora Maria Clara Araújo, além do escritor e pesquisador Ale Santos.

Preta Rara lembra que a escravidão traficou mais de 5 milhões de pessoas para o Brasil, em um regime que durou 350 anos, mas que perpetuou suas desigualdades depois de passar por “um projeto de abolição questionável que negava direitos básicos e marginalizava negras e negros”. “Como poderíamos prosperar?”, questionam os influencers no vídeo.

Entre as estatísticas que revelam o racismo em diferentes setores da sociedade, os influenciadores destacam que, apesar de pretos e pardos representarem mais da metade da população brasileira (54%), as mulheres negras são, por exemplo, apenas 1% entre as executivas, mas 60% entre as empregadas domésticas. Já no mundo da política, eles lembram que, nas últimas eleições, somente 27% das vagas foram ocupadas por pessoas negras.

“Dentre os mais pobres no Brasil, 78% das pessoas são como eu, negras”, pontua Belchior. “A cada 23 minutos um jovem negro é violentamente assassinado no Brasil. Até quando vão fechar os olhos para isso?”, pergunta o educador em outra cena. Ao lado dele, Preta Ferreira ressalta mais uma estatística que afeta a ascensão do jovem negro no país: a evasão escolar – a cada 10 deles apenas 6 conseguem terminar o Ensino Médio.

O vídeo foi feito pela Oxalá Produções e teve todo o conteúdo desenvolvido por uma equipe 100% negra. A peça pode ser conferida nas redes sociais da Change.org.

#VidasNegras 

Além de provocarem um debate sobre o tema, os ativistas do movimento negro aproveitam o vídeo-manifesto para convidar o público a somar-se na luta antirracista. Iniciativas populares, nascidas em abaixo-assinados que lutam por justiça racial, são mostradas como maneira de engajar as pessoas na causa e pressionar as autoridades por mudanças.

“Cobre das autoridades a responsabilidade que elas têm neste país que é estruturalmente racista”, pede o pesquisador Ale Santos no filme.

A diretora-executiva e produtora da Oxalá, Joyce Prado, comenta sobre a importância dessa mobilização civil como pressão sobre os poderes para que determinadas realidades sejam alteradas na sociedade. “A campanha ‘Vidas Negras’ está envolvida por esse desejo de construir a relevância do indivíduo e da sociedade civil dentro dessa pressão social que é tão importante para mudanças estatais e, consequentemente, mudanças estruturais”, afirma.

A conselheira de Diversidade e Inclusão da Change.org, Anne Galvão, explica que, além do vídeo-manifesto, a “Vidas Negras” conta com um hotsite que reúne mais de 80 abaixo-assinados com temas relacionados à justiça racial. A campanha, citada por ambas, é apoiada pelo HuffPost, que já noticiou ao menos 3 dessas mobilizações populares.

“Sabemos que infelizmente muitos brasileiros e brasileiras ainda não têm uma compreensão básica sobre os impactos do racismo estrutural, que interfere no acesso a direitos fundamentais para pessoas negras”, pontua Anne. A conselheira destaca que a intenção da campanha e do hotsite é, justamente, dar visibilidade a esse problema estrutural e, a partir da intensificação do debate, facilitar o engajamento do público na causa.

Entre as mobilizações visibilizadas pela página estão pedidos de investigação sobre as mortes de jovens negros inocentes – como o garoto João Pedro -, justiça a vítimas de atos de racismo – como o entregador de delivery humilhado por um empresário na cidade de Valinhos (SP) -, prisão para policiais envolvidos em ocorrências racistas, além de outros casos.

Fonte: HuffPost Brasil.

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