Assata Shakur, revolucionária negra dos Panteras Negras e do Exército de Libertação Negra inspirou gerações de ativistas a lutar por um mundo melhor, faleceu no dia 25 de setembro de 2025 em Havana, Cuba, onde vivia exilada há mais de quatro décadas.

Por John Parker

Assata Shakur segue representando um chamado à resistência: contra o racismo, o imperialismo e todas as formas de opressão

Não surpreende que Assata Shakur não seja um dos nomes mais conhecidos da história dos Estados Unidos — embora devesse ser.

Isso é o esperado quando se trata de heróis negros. Por isso, precisamos garantir que essa mulher negra e sua relevância para o nosso movimento permaneçam visíveis.

Como Assata disse em uma carta aberta ao nosso movimento:

“Como a maioria das pessoas pobres e oprimidas nos Estados Unidos, não tenho voz. Os negros, os pobres nos EUA, não têm liberdade real de fala, liberdade real de expressão e muito pouca liberdade de imprensa. A imprensa negra e a mídia progressista desempenharam historicamente um papel essencial na luta por justiça social. Precisamos continuar e expandir essa tradição. Precisamos criar meios de comunicação que ajudem a educar nosso povo e nossas crianças — e não a destruir suas mentes.”

As décadas de 1960 e 1970 testemunharam frequentes armações e assassinatos de líderes negros nos movimentos de libertação pelo FBI, especialmente contra o Partido dos Panteras Negras, como no assassinato de Fred Hampton em Chicago, em 1969.

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Sendo integrante dos Panteras Negras e do Exército de Libertação Negra — constantemente ameaçados pela polícia — o que aconteceu com Assata em 2 de maio de 1973 era apenas questão de tempo.

Zayd Malik Shakur, Sundiata Acoli e Assata foram parados por patrulheiros rodoviários na New Jersey Turnpike, supostamente por causa de uma “luz traseira defeituosa”.

Assata foi ordenada a levantar as mãos e, em seguida, baleada no peito e nas costas. Ao defendê-la, Zayd foi morto. Um dos policiais, Werner Foester, também morreu, e Assata foi condenada à prisão perpétua, acusada de homicídio e tentativa de homicídio — mesmo depois de laudos médicos comprovarem que ela fora baleada com as mãos erguidas.

Em 1979, porém, seus companheiros a ajudaram a fugir da prisão. E em 1984, soube-se que ela havia recebido asilo do povo cubano. O presidente Fidel Castro, em nome de Cuba, tinha um histórico de defesa do direito à autodefesa e à autodeterminação do povo africano em Angola, além de manter solidariedade contínua com líderes da libertação negra nos Estados Unidos.

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Assata pôde viver sua vida, honrada pelo povo cubano, permanecendo na ilha como educadora.

Quando a notícia do asilo veio a público, a polícia de Nova Jersey ficou tão indignada que chegou a pedir ao Papa João Paulo II, em visita a Cuba, que ajudasse em sua extradição para os EUA. Ao saber disso, Assata escreveu uma carta ao Papa para apresentar o outro lado da história:

“A brutalidade policial é uma ocorrência diária em nossas comunidades. A polícia tem praticamente uma licença para matar — e mata: crianças, avós, qualquer pessoa que considerem inimiga. Atiram primeiro e perguntam depois. Dentro das cadeias e prisões, há tanta brutalidade quanto havia nas plantações escravistas. Um número cada vez maior de prisioneiros é encontrado morto por enforcamento em suas celas.

Os Estados Unidos estão se tornando uma terra cada vez mais hostil para negros e outros povos racializados. O racismo corre solto e a xenofobia cresce. Isso é especialmente evidente na política interna. Os políticos tentam culpar os negros e outros povos de cor pelos problemas sociais. Há ataques a praticamente todos os programas de ação afirmativa criados para corrigir os efeitos acumulados de séculos de escravidão e discriminação. Além disso, o governo parece decidido a eliminar os programas sociais que prestam assistência aos pobres, resultando em uma situação em que milhões não têm acesso a cuidados básicos de saúde, moradia digna ou educação de qualidade.”

Sim, a história se repete — e a administração Trump deixa isso claro. Também é evidente que o avanço rumo ao fascismo e ao genocídio não começou com Trump.

A Penitenciária de Clinton foi onde Assata cumpria sua pena de prisão perpétua. Embora não tenha sido batizada em homenagem a Bill Clinton, o nome cai bem. Seu governo ajudou a manter presos políticos atrás das grades e os transformou em alvos de assassinato, ao mesmo tempo em que se juntou ao clube de democratas que abriram caminho para republicanos como Trump. O tempo de Assata na prisão também incluiu tortura, abuso e confinamento solitário.

Em 1979, a administração de Jimmy Carter criou uma recompensa contra Assata. Bill Clinton a elevou para 1 milhão de dólares. E em 2013, foi o governo de Barack Obama que dobrou o valor: o FBI declarou Assata a primeira mulher incluída na lista de Terroristas Mais Procurados, oferecendo 2 milhões de dólares por sua “captura” — na prática, mais um convite ao “capturar e matar”. Mas ela resistiu — e venceu!

Assata tem sido, e continua sendo, uma inspiração em nossa luta contra o genocídio — de Los Angeles a Chicago, de Gaza à Palestina. Em sua autobiografia, publicada em 1988, ela nos ensina a necessidade da autodefesa e da autodeterminação. Escreve sobre o que é essencial para construir uma classe trabalhadora unida, inspirando especialmente povos oprimidos e racializados com seu estudo e apreço por Ho Chi Minh, Kim Il Sung, Che Guevara, Fidel Castro e Huey Newton, aprofundando sua compreensão do marxismo-leninismo.

Em 1996, em Cuba, Assata Shakur afirmou:

“A libertação dos povos oprimidos nos Estados Unidos não tem a ver com subir uma escada rumo ao sucesso, nem em tentar ser como Rockefeller, DuPont ou Ford — porque isso apenas perpetuaria a opressão e a exploração dos povos oprimidos nos Estados Unidos, e em particular dos afro-americanos nascidos e criados neste país.

O socialismo é parte integrante da construção da justiça social neste planeta. A condição do meu povo, a minha história, estava profundamente ligada à de outros povos oprimidos. E comecei a perceber que o mesmo pé que estava no pescoço do povo vietnamita estava no pescoço de todos os oprimidos. […] E então compreendi que o imperialismo precisa acabar. É um veneno que mata povos no mundo inteiro. As prioridades deste planeta precisam ser completamente transformadas. […] Esse é o meu compromisso político fundamental neste momento.”

E Assata, que sabia da influência de Cuba sobre o Papa, encerrou sua carta dizendo:

“Neste dia, aniversário de Martin Luther King Jr., lembro-me de todos que deram suas vidas pela liberdade. A maioria das pessoas deste planeta ainda não é livre. Peço apenas que continuem a trabalhar e a orar pelo fim da opressão e da repressão política.

Acredito sinceramente que todas as pessoas desta Terra merecem justiça: social, política e econômica. Creio que essa é a única forma de alcançarmos a paz e a prosperidade no mundo. Espero que desfrute de sua visita a Cuba. Este não é um país rico em bens materiais, mas é um país rico em bens humanos, espirituais e morais.”

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Fonte: Revista Opera / Struggle-La Lucha | Imagem: Wikimedia Commons.

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